A irmã da noiva: quem disse que Kate Middleton era a beleza da
família? Não é. A beleza da família está com a irmã, diz-me Dimitris,
um barbeiro grego que opera em St. James há 37 anos.
Mas, antes de falarmos da irmã, falemos de mim. "Como é que você faz a
barba?" pergunta-me ele, tom inquisitorial, olhar nauseado.
Explico-lhe: lâmina de baixo para cima na zona da garganta; depois, de
cima para baixo no rosto.
Ele renega-me três vezes, como Pedro a Jesus Cristo, e depois
acrescenta, firme e ameaçador: "É sempre de cima para baixo, para
acompanhar o crescimento natural da barba!"
Registro, grato e trêmulo. Então ele coloca-me uma toalha quente e
umedecida sobre a cara, vai preparando a espuma e fala da irmã de
Kate. "Chama-se Pippa", diz-me ele, "e agora era o momento ideal".
Removo a toalha do rosto e pergunto, intrigado: "Ideal para quê?"
"Para atacar", diz-me ele, com a lâmina na mão. "Imagine só: a irmã
casa com o herdeiro do trono, e ela, a mais bonita, fica para tia?
Isso dá cabo de uma mulher, rapaz."
Bem pensado, Dimitris. Talvez eu vá mesmo ao casamento, se acordar a
tempo. Ou se você não me degolar primeiro.
Kate casa com o herdeiro do trono britânico. Mas nem sempre as coisas
foram róseas.
O casal, dizem os jornais, teve duas brigas feias no passado. E eu,
tomado por uma experiência digna de Proust, lembro-me bem da primeira
delas. Minto: lembro-me de um cartum a respeito na revista "The
Spectator".
Vemos uma Kate, chorosa, nos braços de uma amiga (ou seria a irmã?); e
a amiga, com verdadeira compaixão, consola-a com as seguintes
palavras: "Sim, ele pode ser jovem, lindo, obscenamente rico e o
herdeiro do trono. Mas você consegue melhor que isso!"
Eis o humor britânico: uma inaudita mistura de crueldade e nonsense
que podemos encontrar nos melhores. Em Jonathan Swift, Oscar Wilde,
P.G. Wodehouse; e, claro, nos Waugh -pai e filho.
Do pai Evelyn falarei um dia. Do filho Auberon falarei já na próxima
semana, até porque há livro novo aqui -uma antologia das suas crônicas
que pretende "resumir" o essencial do seu "pensamento".
Duvido que a mente deliciosamente anárquica de Auberon possa ser
"resumida". Mas uma coisa eu sei: dez anos depois da morte, o
colunista que praticamente me ensinou a ler (e a escrever) continua a
fazer uma falta desgraçada na imprensa desgraçada desse país.
Ele era ácido, elegante, obscenamente surreal e o herdeiro do trono
literário do pai. Não é possível encontrar melhor que isso.
Sejamos honestos: William é um bom partido para Kate; mas Kate é um
excelente partido para William -e para a Família Real.
Desde a morte de Diana Spencer que o problema dos Windsor é o mesmo:
como reconquistar a lealdade dos súditos num mundo crescentemente
igualitário?
Anos atrás, um jornalista que admiro (George Walden) escrevia um livro
com a resposta. Intitula-se "The New Elites", e Walden defende que as
"novas elites" (da televisão, do cinema, da música, da política) já
não procuram "distinguir-se" das massas; procuram, pelo contrário,
imitá-las nos comportamentos, na linguagem e até no vestuário.
Na década de 50, Humphrey Bogart vestia-se como um "gentleman". Nos
dias de hoje, Johnny Depp ou Brad Pitt não se distinguem dos
adolescentes que assistem aos seus filmes.
Hollywood é um negócio. A Família Real, de certa forma, também. E,
para manter o negócio a funcionar, nada melhor que uma bela transfusão
de sangue plebeu para contentar os corações plebeus dos ingleses.
Os espanhóis já o fizeram com a jornalista-que-virou-princesa Letizia
Ortiz. O mesmo aconteceu com Victoria da Suécia e o seu ex-personal
trainer, convertido em duque.
Faltava só os ingleses. "The show must go on."