Demanda por chocolate de luxo gera onda de roubo de cacau em Madagascar
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Demanda por chocolate de luxo gera onda de roubo de cacau em Madagascar


O aumento no caso de roubos de colheitas inteiras de cacau está assustando os fazendeiros da região noroeste de Madagascar, um dos maiores produtores mundiais de cacau de alta qualidade.
Com isso, o preço também aumentou e intermediários chegam a pagar dez vezes o valor do cacau comum no mercado quando encontram sementes de alta qualidade. Nos últimos anos, o sucesso de marcas de chocolate de alta qualidade elevou consideravelmente a demanda pelo cacau de Madagascar.
Para os fazendeiros da ilha, o aumento da demanda pode transformar vidas, principalmente depois de anos de pobreza. No entanto, as lavouras estão sendo ameaçadas por bandidos armados que agem livremente nas áreas mais remotas, levando estoques e cargas.
Em alguns vilarejos foram levadas cargas que chegam a valer até US$ 1.000 (mais de R$ 2 mil), quantia considerada uma fortuna em um dos países mais pobres do mundo.


Amory, 62 anos, líder do vilarejo de Antanimandririna, um dos locais atingidos pela onda de crimes, conta que os fazendeiros guardavam a colheita em grandes galpões atrás de suas casas.

Mesmo assim, tudo foi roubado.

"Os homens chegaram com armas e ameaçaram os fazendeiros, eles vieram pela floresta e ficamos sabendo de outros incidentes nos vilarejos vizinhos, os estoques foram roubados lá também", afirmou o fazendeiro.

Polícia

Floren, outro fazendeiro da região, contou à BBC que eles não conseguem proteger o cacau, que os criminosos chegam pela floresta inesperadamente e levam tudo.

"Não há polícia em lugar nenhum. Este é um lugar sem lei e eles podem fazer o que quiserem, estão nos deixando sem meios para alimentar nossos filhos. Eles podem ser pobres, mas estão roubando de homens ainda mais pobres", disse.

Um policial, falando à BBC sob a condição de se manter anônimo, contou que a polícia tem poucos recursos para controlar as áreas mais remotas, onde a maioria dos criminosos operam.

"Nós não temos armas para proteger estes homens. Não temos nem policiais o bastante ou veículos para patrulhar e o resultado é que os criminosos estão governando as coisas aqui na floresta."

Segundo John Ferry, presidente da Madecasse, a única companhia internacional que fabrica suas barras de chocolate em uma fábrica em Madagascar, na capital Antananarivo, o cacau precisa ser protegido, pois o setor pode progredir ainda mais e fornecer empregos.

"Os fazendeiros de cacau não estão sendo protegidos. É incrível quando você leva em conta que uma tonelada de cacau aqui pode chegar a US$ 6 mil (cerca de R$ 12 mil)."

"É uma quantia que pode mudar a vida de uma pessoa, então a tentação de cometer um roubo é significativa. Quando o fazendeiro sofre, nosso negócio sofre também - nós contamos com suprimentos frescos do melhor cacau", afirmou.

De acordo com a pesquisa realizada pelo grupo suíço Small Arms Survey, cerca de um terço de Madagascar se transformou em "Zones Rouges" (ou zonas vermelhas), onde o governo tem pouco ou nenhum controle e os crimes são frequentes.

Muitas das fazendas de cacau maiores agora contam com segurança própria, mas os fazendeiros menores apenas podem tentar esconder o cacau no quarto dos filhos, debaixo das camas. Ou então, comprar armas.

Amory, do vilarejo de Antanimandririna, é um dos muitos fazendeiros que está pensando em comprar armas para defender as lavouras de cacau, apesar de não gostar da ideia.

"Somos fazendeiros. Não deveríamos ter que pegar em armas para viver", disse.

Pobreza e baunilha

Madagascar é um país marcado pela pobreza e, para piorar, sofre com sanções internacionais impostas depois que o atual presidente, Andry Rajoelina, assumiu o poder com um golpe militar em 2009.

A retirada da ajuda internacional ao país levou muitos a uma situação desesperadora.

Os preços dos alimentos são altos e Madagascar ainda sofre com epidemias de malária e desastres naturais.

E, apesar de o cacau estar em ascensão, o principal produto do país ainda é a baunilha, cuja produção é protegida por lei.

A maior parte da baunilha do mundo vem da ilha.

O produto não pode ser transportado durante a noite e as penas para quem rouba baunilha são severas.

"Acreditamos que o cacau precisa ter esta mesma proteção", afirmou John Ferry, da Madecasse.




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