Em conversas captadas pela PF, Fernando Sarney discute nomeações na estatal
Alvo de cinco inquéritos abertos pela Polícia Federal, empresário foi indiciado anteontem sob acusação de ter cometido quatro crimes
LEONARDO SOUZA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
HUDSON CORRÊA
ENVIADO ESPECIAL A SÃO LUÍS
Diálogos captados pela Polícia Federal na Operação Boi Barrica revelam que o empresário Fernando Sarney tentava interferir em indicações e negócios realizados pela Eletrobrás, empresa estatal do setor elétrico, área controlada por seu pai, o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP).
Fernando foi indiciado anteontem sob acusação de ter cometido quatro crimes: formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica.
Apontado como o "líder da quadrilha", o filho de Sarney é alvo de cinco inquéritos abertos pela PF -a principal linha de investigação apura a prática de tráfico de influência supostamente exercida por Fernando para beneficiar empresas privadas em contratos com o governo. Ele ainda pode ser indiciado por mais crimes.
Em uma das conversas gravadas pela PF com autorização judicial, Fernando trata da indicação de uma pessoa para um cargo na diretoria financeira da Eletrobrás. Seu interlocutor, identificado pela PF apenas como Jorge ou Vitinho, diz que precisa do aval de Fernando.
Jorge cita ainda o nome do advogado Roberto Teixeira, compadre do presidente Lula, que também teria defendido o nome da mesma pessoa para a função na Eletrobrás.
Procurado pela Folha, o advogado disse que usaram seu nome indevidamente e que nunca pediu cargo para ninguém em nenhuma estatal ou órgão do governo. "Isso é um absurdo completo. Nunca estive nem conheço ninguém na Eletrobrás", afirmou Teixeira.
No dia 17 de abril do ano passado, a polícia gravou o seguinte diálogo:
Jorge: "Vai ter uma diretoria que tá pra entrar lá na Eletrobrás e nós precisamos de um apoio, eu posso passar um e-mail para você?"
Fernando Sarney: "Claro [...]. Manda para mim um e-mail".
Uma semana depois, o empresário João Dória Júnior troca telefonemas com Fernando. O empresário pergunta a Fernando se ele já tinha o nome para que fosse indicado para o ministro e o presidente da Eletrobrás. Apesar de não ter citado nominalmente, o empresário se referia a Edison Lobão, indicado para comandar a pasta de Minas e Energia por José Sarney, de quem é aliado.
Dória foi presidente da Embratur e do Conselho Nacional de Turismo no governo Sarney, entre 1986 e 1988.
"Eu já passei para eles aquelas indicações e datas. Fiquei aguardando uma posição, que ainda não veio. Eu tô em Brasília, vou estar com eles hoje. Amanhã te digo alguma coisa", respondeu Fernando.
Ainda em abril de 2008, Fernando fala também sobre a Funasa. Ele conversa com uma pessoa identificada pela PF como Talvane. Fernando diz que havia ligado para ele no dia anterior, porque "o menino da Funasa" estava com ele.
"[Ele estava] me dizendo que tá tudo teu pronto, que fez o que tu tinha pedido e que tá na tua mão, mas que tu tem que correr porque os prazos estão se acabando. Ele me explicou lá na hora um negócio de uma caução. Não sei o que é direito, mas é bom você mandar alguém lá para ver isso, para gente não perder", afirmou.
Diz o inquérito da PF: "Desponta aí a prática de diversos crimes danosos aos cofres públicos, como advocacia administrativa, tráfico de influência, fraude a licitação, falsidade ideológica, falsidade documental, bem como os já aventados crimes contra o sistema financeiro, lavagem de dinheiro e, possivelmente, [...] crimes contra a ordem tributária".