Política
Dilema atroz - CELSO MING
O Estado de S.Paulo - 11/02/12
No final de outubro, o então primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, avisava, em tom de advertência, que seu país nunca esteve, como naquela ocasião, tão perto de abandonar o euro. Como, de lá para cá, pouco mudou, conclui-se que a Grécia do atual primeiro-ministro Lucas Papademos (foto) continua próxima de abandonar a moeda única.
O governo grego parece sempre estar dizendo que o prejuízo maior de eventual saída do euro ficaria para os demais sócios, não para seu povo. O pressuposto seria o de que a troca de moedas provocaria brutal contaminação e o derretimento do próprio euro.
Depois que o Banco Central Europeu começou a despejar volumes ilimitados de recursos nos bancos do euro, o naufrágio à Titanic do bloco parece bem mais improvável - embora os problemas estejam longe de ser sanados.
Se a situação é limite, convém examinar os limites. Em novembro, Kenneth Rogoff , ex-economista-chefe do FMI, observava que, cedo ou tarde, a Grécia teria de pular do euro e voltar à dracma. A opção - ou o dilema - continua de pé.
Para o governo da Grécia, a primeira vantagem da volta à dracma seria poder emiti-la cada vez que tivesse de cobrir um rombo. Outra vantagem seria a de derrubar as despesas públicas. A operação de saída do euro viria acompanhada de alentado calote da dívida. Sem ter de pagar nem os juros nem o principal, o déficit ficaria mais administrável. Em terceiro lugar, uma dracma megadesvalorizada baratearia em moeda forte seus produtos de exportação e seus serviços de turismo. E, assim, com mais receitas em moeda estrangeira, a Grécia poderia recuperar o ritmo de sua atividade econômica.
Mas essa seria só a parte boa da maçã. O calote fecharia o crédito externo por anos. A Grécia teria de viver da mão para a boca, com o que arrecadasse. O precedente da Argentina, sempre lembrado, teria pouca aplicação. A Grécia não é grande produtora de commodities, não tem significativas receitas em moeda estrangeira, tampouco uma indústria competitiva.
Uma forte desvalorização da dracma em relação ao euro, por si só, teria forte potencial inflacionário. C0mo os gregos são dependentes de suprimento de alimentos e de energia (combustíveis) do resto do mundo, especialmente da Europa, o preço dos importados dispararia.
O calote e a troca de barco seriam operações de graves consequências. Os maiores credores da Grécia são os bancos gregos. É provável que muitos deles viessem a quebrar. Além disso, a população grega tem depósitos e aplicações financeiras em euros nos bancos locais. A troca de moeda exigiria a conversão desses ativos para dracmas. Não seria de um dia para o outro que o governo da Grécia teria suficiente numerário em dracmas para fornecer aos correntistas dos bancos. Logo, seria inevitável o racionamento do acesso a essas contas correntes e às aplicações financeiras. As autoridades teriam de organizar um corralito como o da Argentina (2001), que paralisou a economia.
Enquanto o dilema for morrer de morte morrida ou de morte matada, fica compreensível que o grego prefira fingir: fingir que aceita a dureza do plano; fingir que vai cumprir o acordo; fingir que não aguenta mais; e fingir que dará o abraço do afogado e que não será a única vítima.
loading...
-
Maratona E Reina Dos Bancos. Vinicius Torres Freire
FOLHA DE SP - 17/05 Temor de saída do euro acelera corrida para sacar dinheiro dos bancos gregos, o que ameaça bancos europeus UMA CORRIDA BANCÁRIA quebra um banco. O corre-corre para sacar dinheiro de vários bancos, como na Grécia, pode quebrar...
-
A Grécia Aguenta? - Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 19/02/12 Quando tudo parecia consolidar a aprovação do acordo para o plano de austeridade cuja aprovação o primeiro-ministro da Grécia, Lucas Papademos (foto), arrancou do seu Parlamento, aumenta a percepção de que todo...
-
Perca Tema Surpresa Grega Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 02/11/11 A decisão do primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, de convocar referendo popular para validar (ou não) o pacote de salvação aprovado na cúpula da área do euro, dia 27, mostra como são precárias as condições...
-
Quebrar Ou Não Quebrar Celso Ming
O Estado de S.Paulo - 24/09/11 Ontem, duas altas autoridades europeias admitiram, afinal, a quebra (default) da Grécia. Foram Klass Knot, diretor do Banco Central Europeu (BCE), representante da Holanda no Conselho; e ninguém menos que o ministro das...
-
Outra Vez, A Grécia Celso Ming
O Estado de S.Paulo Toda a área do euro ficou mais uma vez abalada por informações cujos veementes desmentidos não convenceram ninguém. Na última sexta-feira, a edição digital da revista alemã Der Spiegel não só avisou que a Grécia estudava...
Política