Da edição on-line de O Globo:" O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, declarou hoje, em São Petersburgo, na Rússia, durante entrevista coletiva, que as tensões despertadas com o Brasil e o México, em decorrência das denúncias de espionagem, não devem se sobrepôr aos interesses comuns com esses dois países.
- Eu assegurei a eles (os presidentes Dilma Rousseff e Henrique Peña Nieto) que eu levo as alegações (sobre a espionagem) muito a sério. Entendo as preocupações deles e vamos trabalhar com as equipes deles para resolver isso e descobrir aonde está a fonte da tensão. A última coisa que eu queria dizer sobre isso é que, só porque há tensões, não significa que ela vá ser maior do que a impressionante gama de interesses comuns que temos com esses países - declarou Obama, que falou sobre o assunto ao ser perguntando sobre o monitoramento dos dois países pelos Estados Unidos.
Segundo Obama, as agências de vigilância americanas atuam de forma simiiar às de outros países, embora tenham mais recursos. Mas Obama destacou ser preciso avaliar se, por terem a capacidade de espionar, deveriam fazê-lo:
- O que fazemos é parecido com o que se faz ao redor do mundo. Somos maiores, temos capacidades maiores. Como a tecnologia muda rapidamente, essa capacidade também aumenta - afirmou, ressaltando: - Só porque podemos obter as informações de forma mais fácil, não significa que deveríamos fazer isso. Deveríamos ser mais preocupados sobre como usamos as capacidades técnicas.
Durante a entrevista, o presidente americano fez elogios ao Brasil:
- O Brasil é incrivelmente importante. Tem uma impressionante história de sucesso na transição do autoristarismo para a democracia. Tem uma das economias mais dinâmicas do mundo e, é claro, para as duas maiores nações do hemisférios, é importante termos um bom relacionamento.
Dilma: Espionagem afeta interesses econômicos
Antes de embarcar de volta para o Brasil, a presidente Dilma Rousseff chamou de inadmissível a espionagem sobre qualquer governo democrático e disse que, durante a reunião de ontem com Obama, ela transmitiu a “sua indignação pessoal e do conjunto do pais” sobre o caso. Em entrevista pouco antes de embarcar no avião oficial para o Brasil, Dilma afirmou ainda que a espionagem sobre dados dela e do resto dos brasileiros afeta interesses econômicos, a soberania do pais e os direitos humanos e civis.
— O que é estarrecedor para um país que tem na sua fundação a liberdade o respeito aos direitos humanos — destacou.
A presidente disse também que quer saber de tudo o que está sendo feito pelos Estados Unidos em relação à espionagem no Brasil.
— Acho muito complicado saber essas coisas pelos jornais. Eu quero saber o que há. Se tem ou se não tem. Quero saber tudo o que tem — declarou, informando que o presidente americano garantiu explicar o caso: — Obama assumiu a responsabilidade direta e pessoal tanto para a apuração das denúncias quanto para oferecer medidas que o governo brasileiro considerasse necessárias.
Segundo Dilma, ficou acertado que, na próxima quarta-feira, a Susan Rice e o ministro das relações exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, entrarão em contato para que o governo americano passe as providências e as informações sobre o caso. Se necessário, haverá também contato entre os dois presidentes.
Ela não informou se a viagem oficial aos Estados Unidos, marcada para outubro, está cancelada.
— Não tenho prazo para dar resposta nenhuma. Não pretendo transformar a quarta-feira num dia D, mas num dia de avaliação.
Segundo a presidente, a sua reação às denuncias nao se trata de uma questão pessoal:
— Ocorreu comigo porque sou a presidente da republica. O que farão com os brasileiros que não são?
Hoje, no Twitter do Planato, a presidente citou o compromisso do presidente americano em relação às investigações e afirmou que irá propor à Organização das Nações Unidas (ONU) uma “nova governança contra invasão de privacidade”.
Encontro fora da agenda oficial
Dilma e Obama se reuniram a portas fechadas, por cerca de meia hora, na saída da reunião do grupo das 20 maiores economias do mundo, em São Petersburgo, por volta das 21h (horário local), para tratar das denúncias de espionagem sobre as ligações, mensagens de telefone e e-mails da presidente pelo serviço secreto americano. Por esta razão, acabaram se atrasando para o jantar oferecido pelo presidente da Rússia, Vladmir Putin, aos líderes da cúpula no Peterhof, o palácio imperial russo por excelência. Participou da reunião bilateral ainda pelo lado brasileiro o ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo.
Obama também falou sobre os programas de vigilância americana com o presidente do México, Enrique Peña Nieto, de acordo com a Casa Branca. Nieto também teria expressado a sua indignação e considerado o monitoramento um 'ato ilegal'.
De acordo com o vice-assessor de Segurança para Comunicações Estratégicas da Presidência dos Estados Unidos, Ben Rhodes, são coletados dados de inteligência sobre praticamente todos os países.
— Entendemos a força do sentimento deles (brasileiros) sobre o assunto — afirmou, lembrando a importância do Brasil para os Estados Unidos.
Horas antes, durante a 8a. cúpula do G20, Dilma e Obama acabaram sentados lado a lado. Embora próximos, os dois não chegaram a conversar. Já sentada à mesa de reuniões, antes do vizinho, a presidente brasileira chegou a se levantar por duas vezes, enquanto o americano cumprimentava colegas ao lado, fazendo parecer que não queria dar a oportunidade para que ele se aproximasse.
Mesmo assim, foi vista trocando algumas palavras com ele pouco antes do discurso de apresentação da cúpula feito pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin. O clima era frio, deixando claro o constrangimento.
Ainda não está claro se o governo brasileiro ficou satisfeito com a informações, nem se o gesto de Obama foi interpretado como um pedido de desculpas. De todo, Hodes já havia se adiantado em garantir que a Casa Branca pretende trabalhar com o governo brasileiro para entender melhor as suas “inquietações”.
— Continuaremos com esse trabalho.
Irritada, Dilma não havia considerado suficientes as explicações fornecidas pelos Estados Unidos desde as denúncias de espionagem dos seus dados. O governo brasileiro cobrou satisfações e chegou a chamar o embaixador americano Thomas Shanon duas vezes para que se explicasse.
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