Diogo Mainardi Caetés é aqui, não lá
Política

Diogo Mainardi Caetés é aqui, não lá



"Em 4 de novembro, os Estados Unidos escolhem
o presidente. Uma parte dessa histeria pré-fabricada,
eleitoreira, se dissipará. Os americanos devem retomar rapidamente o comando. Chega de mandacarus em Ohio"

Caetés. Os Estados Unidos se transformaram numa Caetés. Olhe o mandacaru em Columbus, Ohio. Olhe o retirante em St. Louis, Missouri. Olhe o menino morto de fome no estacionamento do Wal-Mart em Pueblo, Colorado.

Nas últimas semanas, os americanos passaram a protagonizar um romance sertanejo. Eles choramingam melodramaticamente o tempo todo, reclamando da própria miséria: nas ruas, na imprensa, nos debates eleitorais. Como acontece em Caetés, está muito complicado pagar em dia a hipoteca da segunda ou da terceira casa. Como acontece em Caetés, está muito complicado encher o tanque do segundo ou do terceiro carro. Cada vez que o Dow Jones cai 700 pontos, aumenta o desejo dos americanos de encontrar um coronelzinho que cuide deles direito. É o que Barack Obama oferece ao Fabiano e à Sinhá Vitória dos Estados Unidos: um carro-pipa para distribuir caridosamente planos de saúde, usinas eólicas e bolsas de estudo em Harvard.

Alguns dias atrás, o presidente iraniano, Mahmoud Ahma-dinejad, anunciou o fim do capitalismo. É um retorno a Bucareste, 1965. Num lugar em que falta carne, em que falta sabonete, em que falta gasolina, o tirano ainda promete triunfar sobre o império americano. Além dos iranianos, dos venezuelanos, dos indianos, dos coreanos e dos brasileiros, os próprios americanos compraram a idéia de que os Estados Unidos caminham rapidamente para a ruína. Um editorialista do Washington Post reconheceu os sinais da derrocada do modelo americano. E uma editorialista do New York Times publicou um artigo todinho em latim, estabelecendo um paralelo com o fim do império romano. Para ela, George W. Bush só pode ser um Nero dos novos tempos. Sarah Palin, uma Pompéia. Barack Obama, um Adriano.

Nicolas Sarkozy também participou do cerco aos Estados Unidos. Ele é Alarico I. Depois de se reunir com os líderes de outros países europeus, ele sugeriu reformar o sistema financeiro global, com a finalidade de criar o "novo capitalismo". O que diferencia o novo capitalismo do velho capitalismo? O novo capitalismo é – como dizer? – menos capitalista. Segundo Nicolas Sarkozy, o sistema financeiro, em vez de pensar somente em acumular dinheiro, tem de passar a favorecer o bem-estar coletivo. Nessa nova ordem mundial, os americanos, depauperados e subalternos, precisam aprender a gerir a economia com Guido Mantega.

Em 4 de novembro, os Estados Unidos escolhem o presidente. Uma parte dessa histeria pré-fabricada, eleitoreira, se dissipará. Os americanos devem retomar rapidamente o comando. Quem sabe decidam até bombardear as usinas nucleares iranianas. Chega de mandacarus em Ohio. Chega de retirantes em Missouri. Chega de meninos mortos de fome em Colorado. Caetés é aqui. Caetés é nossa. Ninguém pode tomá-la de nós.




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