O republicano Sobel, embaixador no Brasil, e o petista Gabrielli, que comanda a Petrobras, dividem mais do que um prêmio em Nova York
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HORA DA DESPEDIDA Sobel, de malas prontas para deixar Brasília: "O Brasil não é problema, é oportunidade" |
As honrarias concedidas por entidades binacionais, em geral, contemplam premiados que se encontram em situações mais ou menos simétricas. Na semana passada, a Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos, em Nova York, na sua festa anual para a entrega do prêmio Personalidade do Ano, pareceu quebrar a norma. O americano escolhido foi o embaixador no Brasil, Clifford Sobel, um empresário de Nova Jersey que dirigiu uma empresa de telefonia pela internet, ganhou proeminência na política americana como arrecadador de fundos para o Partido Republicano e, antes do Brasil, foi embaixador junto à realeza da Holanda. Do lado brasileiro, o premiado foi o economista José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, um baiano de Salvador que participou da fundação do PT e passou boa parte de sua carreira no meio acadêmico. No jantar da premiação, ocorrido no hotel Waldorf-Astoria, Sobel e Gabrielli mostraram, porém, que têm mais em comum do que parece à primeira vista.
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NEGÓCIO DA CHINA Gabrielli, o outro premiado: exultante com empréstimo e acordo feito em Pequim |
Na condição de empresário estatal, Gabrielli estava exultante com o empréstimo de 10 bilhões de dólares que fechou com o Banco de Desenvolvimento da China e o acordo pelo qual a Petrobras venderá 200 000 barris de petróleo por dia à estatal chinesa Sinopec nos próximos dez anos. Em seu discurso, tocando num tema recorrente nas relações entre Brasil e Estados Unidos, Gabrielli criticou a tarifa que o governo americano cobra sobre a importação do etanol brasileiro. Sobel, por sua vez, é um admirador entusiasmado do Nordeste brasileiro. Conhece todos os estados e já esteve com todos os governadores da região. Acha que a Bahia podia ser um pedaço do sul dos Estados Unidos, ou vice-versa, virou amigo do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, e já esteve em forró até 2 da manhã com o governador Marcelo Déda, de Sergipe. Fruto de seu empenho, hoje há voos diretos de capitais nordestinas para Miami. Sobre a tarifa do etanol, ele responde do jeito de sempre: "O Congresso é que decide".
Instalado em Brasília desde 2006, Sobel está de malas prontas. Seu sucessor deve ser anunciado a qualquer momento. Tudo indica que será Thomas Shannon, opção que o governo brasileiro aplaude com entusiasmo. Sobel chegou ao Brasil achando que o problema número 1 era a educação. Ainda acha que se trata de um tremendo nó, mas deixa o país certo de que a segurança pública é mais urgente. Para quem acha que o Brasil recebe menos atenção da Casa Branca do que países encrenqueiros como a Venezuela, ele rebate: "O Brasil não está em crise e, por isso, não precisa ser explicado para os congressistas americanos. Na verdade, é uma ilha de estabilidade, inclusive na crise financeira". E arremata: "O Brasil não é um problema, é uma oportunidade". Gabrielli, claro, acha que o embaixador está coberto de razão.