Diretrizes de política e comércio externos
Rubens Barbosa - O Estado de S.Paulo
22 Julho 2014 | 02h 04
O candidato Aécio Neves divulgou as diretrizes gerais de seu programa de governo (www.psdb.org.br). As diretrizes de política externa e de comércio exterior estão integradas às demais diretrizes visando à criação de um ambiente interno e externo fundado na estabilidade das regras e no estímulo aos investimentos.
A nova política externa terá por objetivo restabelecer seu caráter de política de Estado, visando ao interesse nacional, de forma coerente com os valores fundamentais da democracia e dos direitos humanos. As diretrizes que nortearão a ação do Itamaraty terão como principais aspectos:
A política externa será conduzida com base nos princípios da moderação e da independência, com vista à prevalência dos interesses brasileiros e dos objetivos de longo prazo de desenvolvimento nacional.
Reavaliação das prioridades estratégicas à luz das transformações no cenário internacional e regional no século 21. Devem merecer atenção especial a Ásia, em função de seu peso crescente, os EUA e outros países desenvolvidos, pelo acesso à inovação e à tecnologia.
Deverá ser ampliada e diversificada a relação com os países em desenvolvimento.
Definição de nova estratégia de negociações comerciais bilaterais, regionais e globais, para pôr fim ao isolamento do Brasil. Será dada prioridade à abertura de novos mercados e à integração do Brasil às cadeias produtivas globais.
Reexame das políticas seguidas no tocante à integração regional para, com a liderança do Brasil, restabelecer a primazia da liberação comercial e o aprofundamento dos acordos vigentes.
Em relação ao Mercosul, paralisado e sem estratégia, recuperar seus objetivos de liberalização comercial e abertura de mercado e flexibilizar suas regras a fim de poder avançar nas negociações com terceiros países.
Nas organizações internacionais, o Brasil deverá ampliar e dinamizar sua ação diplomática nos temas globais, como mudança de clima, sustentabilidade, energia, democracia, direitos humanos, comércio exterior; assim como novos temas, como terrorismo, guerra cibernética, controle da internet; e nas questões de paz e segurança, inclusive nas discussões sobre a ampliação do Conselho de Segurança da ONU.
Ampliação da coordenação da política externa com a da defesa nacional em todas as suas dimensões.
Revalorização do Itamaraty na formulação da política externa, subsidiando as decisões presidenciais. Ao mesmo tempo, serão garantidos o aperfeiçoamento de seus quadros e a modernização de sua gestão.
O grande desafio que a nova política de comércio exterior enfrentará será o de promover a crescente integração do Brasil no comércio internacional. Por meio de uma estratégia de integração competitiva das empresas brasileiras às cadeias mundiais de valor, poderá ser reduzido o hiato tecnológico da nossa indústria e ser aberto caminho para uma estratégia de modernização compatível com a dinâmica do sistema econômico internacional. Para responder a esse desafio as diretrizes que orientarão as políticas internas e externas de comércio exterior são as seguintes:
A nova política de comércio exterior deverá estar articulada com a política macroeconômica e com a política industrial, voltadas para a recuperação da produtividade, da competitividade e da inovação.
Conclusão das negociações comerciais em curso com a União Europeia e lançamento das bases para um acordo preferencial com os EUA.
Reavaliação das prioridades estratégicas com a China por sua importância para a economia brasileira e global.
Recuperação da competitividade e estímulo a maior e melhor inserção do País no comércio internacional, por meio de medidas voltadas para a redução do "custo Brasil" e dos serviços, com vista à ampliação das exportações, à retomada das negociações de acordos comerciais e ao apoio ao investimento externo de empresas brasileiras.
Redução da carga tributária sobre exportações e dos custos acessórios no cumprimento das exigências tributárias e simplificação dos regimes tributários nacionais.
Simplificação da legislação de comércio exterior e desburocratização das aduanas e dos portos, por meio da elaboração de uma abrangente agenda de facilitação de comércio com o exterior, com o engajamento dos diferentes órgãos governamentais relacionados à área.
Desenho de uma reforma tarifária que confira maior racionalidade à estrutura de proteção. O cronograma de racionalização tarifária será anunciado com antecedência e implantado de forma gradual e a longo prazo.
Reforço de instituições de regulação técnica e certificação de produtos, como Inpi e Inmetro, para a redução dos prazos para obtenção de patentes e a isonomia entre produtos importados e os produzidos localmente.
A defesa comercial e a promoção comercial deverão ser aperfeiçoadas e integradas de forma coordenada na nova política comercial.
Exame da compatibilização com a legislação nacional das regras, normas e regulamentos técnicos que passaram a fazer parte dos novos acordos de preferências comerciais, para permitir a participação dos produtos nacionais em cadeias globais de valor.
Essas diretrizes respondem aos principais desafios internos e externos que o futuro governo deverá enfrentar no médio e no longo prazos e criam condições para a restauração da projeção externa do Brasil, perdida nos últimos quatro anos, e para sua reinserção competitiva nas negociações comerciais globais, regionais e bilaterais para a inclusão das empresas brasileiras nas cadeias globais de alto valor agregado.
Em resumo, são mudanças nas ênfases, nas prioridades e nos rumos da política externa e da política comercial em relação ao que ocorreu nos últimos 12 anos.
RUBENS BARBOSA FOI EMBAIXADOR DO BRASIL EM WASHINGTON (1999-2004)