O Estado de S. Paulo Editorial - 13/11/2009 |
Enquanto não se souber com certeza o que causou o blecaute da terça-feira à noite - e, sobretudo, por que não se impediu que o problema avançasse pela madrugada, atingisse 18 Estados, o Distrito Federal, além do Paraguai, afetando perto de 60 milhões de pessoas -, será no mínimo temerário apontar o dedo para essa ou aquela autoridade do setor elétrico nacional. Mas não é preciso esperar mais nada para deplorar o apagão de competência (do governo) e de integridade (da oposição) ao longo do day after. Ministros e outras autoridades tiveram em comum com os políticos um desempenho marcado por um monumental pouco-caso com os brasileiros ansiosos por respostas confiáveis e condutas honestas. No lugar disso, ouviram dos governistas que tudo não passou de um "microincidente", ou de uma "marolinha". Dos oposicionistas, que foi a "pá de cal" na candidatura presidencial da ministra da Casa Civil e ex-titular de Minas e Energia, de 2003 a 2005, Dilma Rousseff. E, ainda, que o apagão de agora (na transmissão) deixou o presidente Lula em pé de igualdade com o antecessor Fernando Henrique, em cujo segundo mandato o País conheceu uma prolongada crise de geração de eletricidade. A pré-candidata, por sua vez, em contraste clamoroso com a sua habitual onipresença destinada a promovê-la junto ao eleitorado, simplesmente se apagou. Cancelou compromissos, ausentou-se de eventos aos quais decerto compareceria em outras circunstâncias e, no seu único contato com jornalistas, fugiu das perguntas, mandando "um beijo". É provável que ela tenha se eclipsado por decisão de Lula, preocupado em dissociá-la do acontecimento que interrompeu a longa sequência de fatos positivos para o governo, ou assim explorados, de olhos postos na sucessão. Se o fez, foi tão pequena - e manipuladora - quanto os seus adversários. Afinal, em vez de se ocultar, a ministra devia ter esclarecido, de imediato, o que a levou a afirmar categoricamente, numa entrevista há duas semanas, ter a certeza de que "não vai ter apagão". Devia esclarecer também o que fez das recomendações recebidas em julho do Tribunal de Contas da União (TCU) para prevenir um novo apagão. É verdade que, nas duas situações, o termo empregado designasse um problema estrutural, não o risco de um evento isolado. Mas ela teria de ser a primeira a se manifestar a respeito, jogando limpo com a sociedade. Tudo considerado, o presidente ainda foi quem menos mal se saiu no episódio. Em público, por se recusar a "chutar" as causas do apagão, guardando-se de fazer comentários "enquanto não tiver a informação concreta e objetiva". A portas fechadas, segundo se noticiou, pela descompostura que passou em membros de sua equipe. "Parem de falar besteira sobre coisas que vocês não sabem", ordenou. "Não quero meias explicações nem dados parciais." Ele tinha motivos de sobra para se indignar. Mais uma vez, Brasília reagia a uma emergência nacional batendo cabeças, às tontas, e mantendo o País no escuro sobre o que se passava. Figurões do setor elétrico passaram boa parte do dia dando explicações contraditórias, num show de descoordenação, negligência e desrespeito pela população. Isso quando não se contradiziam a si mesmos, modalidade em que o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do PMDB maranhense, levou - previsivelmente - a palma. Dele, que se enrolava a cada declaração, se pode dizer que os seus conhecimentos da área talvez nem sequer lhe permitam trocar uma lâmpada. Mas ele não caiu na Esplanada como os raios que, na versão do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), recebida com ceticismo por especialistas independentes, teriam derrubado "em milissegundos" três linhas de transmissão que ligam a Hidrelétrica de Itaipu à malha nacional. Lobão está onde está por conta dos arranjos políticos de Lula com o presidente do Senado, José Sarney. Por isso tem reduzida autoridade moral para dar um "cala a boca" em quem "fala bobagem sobre o que não sabe". Só agora, no afã de proteger a pré-candidata que Lula lhe impôs, o PT ousa criticar publicamente Lobão. "Quando Dilma era ministra, não tivemos nenhum apagão", atacou a senadora Ideli Salvatti, de Santa Catarina. Na verdade, ninguém acredita que Lobão seja mais do que o executor da política de Dilma na área da eletricidade. |