Política
Duplo espanto ANTONIO DELFIM NETO
FOLHA DE SP - 07/09/11
Fomos surpreendidos semana passada por dois fatos: 1º) a redução da taxa Selic de 12,50% para 12% ao ano, promovida pelo Comitê de Política Monetária do Banco Central e 2º) a reação hidrofóbica de analistas do mercado financeiro que se pensam portadores da "verdadeira" ciência monetária. Para estes, o Copom teria violado não só as recomendações da tal "ciência", como teria comprometido, irremediavelmente, a credibilidade do Banco Central.
Qual a razão da crítica fumegante? Segundo seus autores, a decisão "foi claramente política" e desrespeitou os cânones da "ciência" que supõem praticar.
O Copom teria trocado sua "autonomia operacional" pelas graças do governo... Para alguns, reforçou-se, assim, a necessidade de reconhecer que essa "autonomia" é insuficiente: o BC precisa mesmo, é ser "independente" do poder incumbente que ignora a ciência e é corrupto por definição!
O poder eleito por 60 milhões de votos deve entregar a condução da política monetária a meia dúzia de sacerdotes não eleitos, com mandatos irrevogáveis que supostamente conhecem e professam a religião da salvação monetária!
Tais críticas têm duas fraquezas: 1º) a tal "ciência monetária" não existe. A política monetária deve ser uma combinação de sólidos conhecimentos da situação conjuntural e de como reagem os agentes econômicos (trabalhadores e empresários) ante as manobras da taxa de juros real.
Ela é uma "arte" que comporta visões alternativas diante das incertezas do futuro. Como os efeitos monetários se fazem sentir ao longo do tempo, só este é capaz de dizer "a posteriori" se a perspectiva escolhida foi certa ou errada.
Estando o mundo caindo aos pedaços, é muito provável que a adotada pelo Copom possa materializar-se. Seria ridículo repetir o que os mesmos analistas recomendaram em 2008: "esperar para ver" e 2º) a acusação que o "BC rendeu-se ao governo" é irresponsável, injusta e arrogante.
Irresponsável, porque colhida furtivamente de "fontes preservadas" e que talvez seja apenas imaginação conveniente, desmentida, aliás, pela existência de votos divergentes. Injusta, porque pela primeira vez em duas décadas o Banco Central é, efetivamente, um órgão de Estado, com menor influência do setor financeiro privado. E arrogante, porque supõe que nenhuma visão e interpretação da realidade que não seja a sua possa ser adequada.
É hora de saudar a "estatização" do BC e a sua decisão.
Se ela continuar, como tudo indica, apoiada pela política fiscal de longo prazo do governo Dilma, teremos iniciado a resolução do maior enigma brasileiro: a normalização da teratológica taxa de juros real que nos acompanha.
loading...
-
Juros Sobem Pela 6ª Vez E Vão A 13,75%, Mesmo Nível De Dezembro De 2008
Imagem: Reprodução / UOLO Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, subiu a taxa básica de juros (Selic) em 0,5 ponto percentual, de 13,25% para 13,75% ao ano. São os maiores juros desde dezembro de 2008, quando a taxa também estava...
-
Abandono Ou Não Do Sistema De Metas Volta à Berlinda - JosÉ Paulo Kupfer
O ESTADÃO - 07/09 Serão duas as principais discussões motivadas pela ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem.Aprimeira será sobre o fim do ciclo de cortes na taxa básica de juros (taxa Selic).O outro...
-
Antonio Delfim Netto - Taxa Neutra
Folha Há uma intrigante questão no ar. Resulta da provocação do Banco Central do Brasil aos analistas do sistema financeiro, alguns dos quais se veem arrogantemente como os portadores da verdadeira ciência econômica. Cada um deles deve...
-
Vinicius Torres Freire - Sob Nova Administração, De Fato
Folha de S Paulo Na ata do Copom, Banco Central explicita de modo oficial que inflação não se combate apenas com juros MERECE REGISTRO para a história econômica "contemporânea" do país, pós-Real, o dia em que foi declarado oficialmente que a...
-
Luiz Carlos Mendonça De Barros A Mensagem Do Copom
FOLHA DE S. PAULO Recuperação da economia será lenta e país não deve voltar à excitação dos primeiros trimestres de 2008 NORMALMENTE não leio integralmente a ata do Copom. Ela é sempre longa e, de certa forma, pretensiosa no seu conteúdo....
Política