Política
E a turma de FHC e Serra queria privatizar a Petrobras. Hoje Compras da Petrobras equivalem a 7 PIBs do Uruguai ou 1 de Portugal
Leituras do Favre
Compras da Petrobras equivalem a 7 PIBs do Uruguai ou 1 de Portugal
Patrícia Duarte – O GLOBO
BRASÍLIA e RIO
Se todos os trabalhadores das empresas fornecedoras da Petrobras vivessem em uma única cidade, a hipotética “Petrolândia” seria uma metrópole do tamanho de Curitiba, com 1,7 milhão de habitantes. Comparações como essa demonstram o gigantismo da empresa, que conta com quase 80 mil fornecedores. Mas eles não estão concentrados, muito pelo contrário. A Petrobras faz negócios com 7% de todas as indústrias e empresas de serviços no Brasil, dos mais variados locais e segmentos. As compras feitas pela estatal nesses setores movimentaram, entre 1998 e 2007, R$ 406,45 bilhões (valor corrigido pelo IPCA até janeiro de 2010), ou US$ 225,8 bilhões a um câmbio de R$ 1,80. Isso significa que a maior empresa do Brasil e uma das mais imponentes do mundo girou em uma década, só com encomendas, o equivalente a sete Uruguais ou um Portugal. Ao ano, são quase US$ 25 bilhões em contratos de fornecimento, o equivalente à geração de riquezas (Produto Interno Bruto) de dois Paraguais.
O poder da Petrobras na economia brasileira foi medido ao longo de dois anos pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), estudo ao qual O GLOBO teve acesso com exclusividade.
Procurada, a estatal não quis comentar o trabalho.
— A força da Petrobras na economia brasileira é imensa. Percebemos também que, além de garantir parte das compras de seus fornecedores, a estatal acaba beneficiando as empresas com as exigências que faz, de qualidade. Isso gera grandes oportunidades de crescimento — afirmou a diretora-adjunta de Estudos Setoriais do Ipea, Fernanda De Negri.
O levantamento mostrou que a Petrobras, entre 1998 e 2007, contava com 79.804 fornecedores, basicamente nos setores de indústria e serviços. Em comparação às pouco mais de 1,1 milhão de empresas nesses ramos que existem hoje no Brasil, percebe-se que a estatal relacionava-se comercialmente com 7% de todas elas, percentual surpreendente para uma única companhia e em uma economia grande e diversificada como a brasileira. Por ano, a estatal gerencia cerca de 300 mil contratos, que geram impressionantes cinco mil pagamentos diários.
Fornecedoras exportam mais
Ao fazerem negócios com a Petrobras, os fornecedores também acabam se aprimorando e, por isso, mostram melhores indicadores do que a média das empresas, em quesitos como exportação, renda e nível tecnológico.
Entre 1998 e 2006, período usado na pesquisa para aprofundar os indicadores socioeconômicos da estatal, as empresas que trabalham com a petrolífera aumentaram em 66,64% — contra 19% das não fornecedoras — a massa salarial originada por suas atividades, chegando a R$ 42,966 bilhões no último ano.
A cifra é equivalente, por exemplo, a 72% de toda a massa salarial da Região Metropolitana do Rio, que, no ano passado, ficou em R$ 59,688 bilhões.
Nem todo o volume veio das transações com a Petrobras, porque esses fornecedores também vendem para outras empresas. Mas a estatal tem uma participação importante nesses resultados. O Ipea também identificou que o número de empregados nas empresas fornecedoras praticamente dobrou no período, para 1,7 milhão de funcionários, enquanto nas demais a expansão foi de 36%.
As empresas que vendem seus produtos e bens à estatal também costumam pagar melhor seu pessoal. O Ipea verificou que o salários médio nas fornecedoras é de R$ 25 mil anuais, quase o dobro da média das demais companhias, de R$ 14 mil por ano.
Para o instituto, essa característica sugere que as fornecedoras têm também maiores níveis de produtividade.
Outro sinal é o indicador de escolaridade.
Nas empresas que operam com a Petrobras, o percentual de funcionários com terceiro grau completo (nível superior) é duas vez maior que nas demais, e o tempo de estudo médio é de aproximadamente 10 anos, contra 8,8 anos nas que não trabalham com a estatal.
Além disso, as fornecedoras da petrolífera têm desempenho melhor no comércio exterior. No período estudado, as exportações desse grupo cresceram 210,83%, enquanto nas outras as vendas externas subiram 179,49%.
Raul Sanzon, proprietário da PWR Mission, que vende bombas e centrífugas à estatal, sabe bem disso. Como o nível de exigência da empresa é muito forte e reconhecido internacionalmente, ser fornecedor da empresa é algo reconhecido no mercado: — Entrar no cadastro de fornecedores da Petrobras é um passaporte que abre portas pelo mundo. Conheço uma empresa desconhecida que, após ser aceita pela estatal, passou imediatamente a exportar para a Malásia — conta o empresário, diretor da Firjan e um dos responsáveis pela capacitação de micro e pequenas empresas para se tornarem fornecedoras da petrolífera, em parceria com o Sebrae. — A Petrobras tem outra vantagem: é exigente, mas paga bem e não atrasa.
O lado ruim da imponência da Petrobras na economia é que, em alguns casos, a dependência dos fornecedores acaba se tornando muito grande. Exemplo é o setor de logística, já que existem pouquíssimas firmas desse tipo no Brasil, e cerca de 70% a 80% de suas receitas vêm da estatal. Mesmo assim, a pesquisa indica que essas companhias são incentivadas a se aperfeiçoarem.
Para Fernanda, do Ipea, o estudo abre a possibilidade para o país criar políticas públicas de desenvolvimento da economia nacional, lembrando que o pré-sal vai demandar da Petrobras muitos investimentos. E, com isso, mais compras de bens e serviços. Para ela, a estatal não deve elevar o números de fornecedores — já são muitos —, mas vai exigir mais produtividade e qualidade deles daqui para frente.
— É uma oportunidade para fazer política pública. Os recursos do présal podem ser usados também para investir em ciência e tecnologia. E não só no setor de petróleo, mas em outros também — defendeu ela.
O setor de serviços certamente será um dos mais requisitados pela Petrobras.
Isso porque o levantamento do Ipea aponta que os maiores desembolsos da empresa ficam nessa área, com mais de 80% do total. Isso ocorre porque a atividade petrolífera, sobretudo para exploração, demanda uma gama muito ampla de atividades.
Segundo o Ipea, entre 1998 e 2007, 84,28% das compras da Petrobras — ou R$ 342,52 bilhões, valores corrigidos pelo IPCA até janeiro de 2010 —foram realizadas com fornecedores do setor de serviços. Em termos de registros (ordens de compra), no entanto, essa fatia cai bastante, para menos de 40% do total feito no período.
Isso significa que os serviços são mais caros, em geral, do que os bens.
Neste caso, foram 61,49% do total de registros de compras feitas pela Petrobras, mas que corresponderam a apenas 15,72% do total desembolsado, ou R$ 63,89 bilhões, valor também corrigido pelo IPCA.
COLABOROU: Henrique Gomes Batista
Pré-sal vai criar oportunidades no setor de tecnologia do Rio, diz Ipea Estado atrairá 36% dos empregos na área de pesquisa do país por sediar Petrobras
Patrícia Duarte
BRASÍLIA. Os investimentos esperados para a exploração da camada de petróleo no pré-sal vão abrir grandes oportunidades para o mercado de trabalho tecnológico, e o Rio de Janeiro sai na frente nessa disputa. Um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostrou que, por sediar a Petrobras e, consequentemente seu centro de pesquisas, a região deverá ver o nível de emprego voltado para Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) dar um salto significativo.
De acordo com o mapeamento, nos próximos cinco anos o Rio de Janeiro deverá criar mais mil empregos voltados à pesquisa, o que representará 36,2% do total de ocupação nessa área em todo o Brasil. No estado, esse volume representará 52,7% dos postos oferecidos por empresas inovadoras.
Mais: os fortes investimentos em tecnologia demandados daqui para a frente e a consequente chegada de importantes empresas do ramo para trabalhar em parceria com a Petrobras poderão multiplicar por 1,5 o número total de empregos em P&D no Rio.
Brasil pode se tornar polo de estudos sobre petróleo As estimativas desenhadas pelo Ipea também terão consequências positivas para as universidades brasileiras, sobretudo a UFRJ, que, pela sua localização, pode ampliar a sua força de pesquisa — a instituição já é a maior produtora de pesquisa na área de petróleo. A universidade possui um polo tecnológico junto ao Centro de Pesquisa da Petrobras (Cenpes).
Todas essas oportunidades de negócio, conclui o Ipea, podem levar o Brasil a se tornar um “polo gerador de conhecimento para a indústria do petróleo” em termos globais, aproveitando tanto o pioneirismo quanto a escala de produção do pré-sal.
Outra consequência possível, se bem trabalhada, será o surgimento de empresas satélites aos empreendimentos, que mantenham “alta intensidade tecnológica”. A avaliação do Ipea sobre as possibilidades para desenvolvimento de tecnologia baseouse na intenção que quatro empresas importantes na área já demonstraram, de uma maneira ou outra, sobre o futuro do setor no país. São elas: FMC Technologies, BarkerHugues, Schlumberger e Halliburton.
A importância do setor petrolífero para o Rio não é de hoje. Outro estudo do Ipea, divulgado no fim de 2008, mostrou que o estado e os municípios fluminenses ficaram com 46,48% — ou R$ 6,8 bilhões — de todos os royalties de petróleo produzidos no ano anterior, que somaram R$ 14,6 bilhões.
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