A economia mundial entra na terceira fase da crise - o aumento expressivo do desemprego, que se alastra pelos Estados Unidos, pela Europa e Ásia e bate às portas do Brasil. A recessão que se agrava lá fora já ameaça seriamente o Brasil. E, incrível, o governo parou. Sim, parou. Foi tomado por uma paralisia inexplicável, mesmo vendo que as demissões se avultam dia a dia, provocadas principalmente pela maior queda da produção industrial nos últimos 13 anos.Agora, chega ao campo. É uma situação séria, muito séria.
As demissões antes restritas a alguns setores, agora se aprofundam e generalizam, afirma o IBGE. Prevê-se um trimestre pior que o anterior. É esta a nova realidade que o governo, estático,se recusa a aceitar.
E O QUE FAZ O GOVERNO?
A equipe econômica, que tinha sido ágil ao antecipar-se à crise, aumentando a liquidez dos bancos, reduzindo seletivamente impostos, tentando estimular a demanda, simplesmente parou nas última semanas. Isso nos enfraquece, pois as exportações vão recuar. Não podemos mais contar com o mercado externo para compensar uma retração do nosso que vacila e só se sustenta se o governo o ajudar.
Mas, por quê? Se alguém souber a causa dessa inércia insensata, por favor me diga. Ainda não entendi o que está acontecendo em Brasília. Talvez o governo esteja satisfeito com o que já fez, acha que é suficiente. A desaceleração econômica e os primeiros sinais de desemprego mostram que não.
Aí estão o recuo da produção industrial, da agricultura, a escassez de crédito, a timidez da demanda provocada pela insegurança no emprego. Aí está, acima de tudo, a crescente falta de confiança no governo das pessoas que esperam atos urgentes mais ousados que as façam acreditar não serão demitidas nos próximos dias; famílias assustadas, que, em vez de comprar, como pede o presidente, preferem poupar para um futuro incerto. Elas têm medo, presidente. Têm medo e não confiam no seu governo porque seus empregadores não estão tendo condições para continuar produzindo e empregando.
E, sem confiança, tudo está perdido. Convém lembrar o último pronunciamento de Obama. Após apresentar um quadro que se projeta terrível, ele afirma que “só o governo pode quebrar o círculo vicioso que paralisa a economia.”
O QUE O GOVERNO DEVE FAZER
Neste fim de semana, a coluna conversou com economistas e empresários. Eles estão seriamente preocupados com a súbita e inacreditável imobilidade que tomou conta do governo nas últimas semanas. Recomendam expressamente - e a coluna endossa - as seguintes medidas que deveriam ser adotadas com urgência urgentíssima.
1- Os bancos oficiais, principalmente o BB, o BNDES, a Caixa, devem fazer empréstimos para grandes empresas,inclusive para capital de giro. Já fazem isso, mas em volumes insuficientes, aquém do que as empresas precisam para voltar a produzir como antes.
2 - Esses empréstimos devem ser garantidos pelo governo, a exemplo do que os Estados Unidos estão fazendo, há dois meses, e Obama promete intensificar ainda mais. Sem isso, a recessão americana já seria bem mais profunda e o desemprego já estaria mais próximo de 10%.
3 - Redução direta e imediata de impostos para o assalariado e, por que não, repetir o plano de Obama de devolver o imposto de renda. Ele vai dar ainda um cheque especial para as famílias voltarem a consumir. Destinará, para isso, US$ 300 bilhões. É a forma mais rápida de incentivar a demanda interna, a produção e a economia.
4 - Reorganizar o programa de ajuda aos desempregados. Eles devem receber uma renda mínima enquanto não encontrarem nova ocupação. Assim, continuariam mantendo o poder aquisitivo, necessário para sustentar sua família sem degradá-la, quanto para manter a demanda interna, neste momento, peça chave para o Brasil evitar a recessão. O salário-desemprego atual é insuficiente e falho. Foi desenhado para situações normais, em que um desempregado conseguia obter novo emprego em alguns meses. Hoje, pode levar mais de um ano.
5 - Finalmente, aperfeiçoar ao máximo o sistema de melhoria profissional dos desempregados para facilitar sua reintegração no mercado de trabalho.
REVOLUCIONÁRIAS? NÃO!
São medidas extraordinárias, sim,mas não revolucionárias; já se aplicam em países em situações de crise e ameaça de recessão.Têm o mérito de serem muito fáceis de aplicar.
O custo? Isso interessa menos, no momento. A recessão, a quebra de empresas, o desemprego em massa, a miséria e a tensão social certamente terão um custo brutal.
No fundo, são simples, ditadas pela mais elementar lógica econômica, em circunstâncias extraordinárias.
O presidente Lula, que esteve sempre atento à crise que mais pune os trabalhadores, deveria avaliar essas medidas recomendadas por representantes do setor produtivo que pode tirar o Brasil da situação em que se encontra. Mas somente poderá fazer isso se contar com o apoio urgentíssimo do governo. Um governo que até agora acertou muito, mas está perplexo,paralisado. Tudo o que fez foi importante, mas é ainda pouco diante do furacão que não se aproxima, não, já está aí. |