Educação Uma escola para os professores em São Paulo
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Educação Uma escola para os professores em São Paulo


Escola para professores

Os candidatos a ensinar na rede pública de São Paulo
terão agora de frequentar um curso para reforçar os
conhecimentos teóricos – e as técnicas didáticas


Camila Pereira

Fotos Alex Silva/AE e Vivi Zanatta/AE

Mais rigor na seleção O governador José Serra e o secretário de Educação, Paulo Renato, anunciam o novo projeto: os candidatos a professor (à esq.) terão de estudar por mais quatro meses e passarão por dois testes

Existe um consenso de que nada é tão decisivo para o ensino quanto um professor bem formado – uma raridade no Brasil. Daí a relevância de uma medida anunciada, na semana passada, pelo governador de São Paulo, José Serra. Trata-se da criação de uma escola de formação de professores, concebida com um propósito bem diferente do dos tradicionais cursos de aperfeiçoamento de docentes. Enquanto esses últimos funcionam como uma espécie de recauchutagem para quem já dá aula em escolas públicas, o novo curso vai atender os professores antes de eles assumirem a função. A passagem por tal escola não será opcional, mas sim um pré-requisito para que esses profissionais possam ensinar na rede estadual de São Paulo, a maior do país. Significa que, para conseguir o emprego de professor, não bastará mais ser aprovado em concurso público. Com a mudança, o candidato será avaliado uma segunda vez, com base numa prova cujo objetivo é medir o conhecimento que assimilou ao longo do curso. Ali, todos permanecerão por quatro meses, durante os quais terão dois tipos de aula: as teóricas, em que receberão reforço nas disciplinas que pretendem lecionar, e as práticas, durante as quais farão um estágio supervisionado dentro das escolas. O novo sistema já deve valer a partir de setembro, data do próximo concurso. Até 2010, estima-se que 30 000 candidatos a professor terão frequentado tais aulas.

Por que, mesmo depois de cursar uma faculdade de pedagogia, alguém precisa estudar por mais quatro meses para se tornar professor? A razão remete a um cenário desolador: grande parte dos docentes no Brasil se forma sem saber o que nem como ensinar. "As faculdades se perdem em teorias dissociadas da prática em sala de aula e não cumprem sua função básica: formar um profissional realmente capaz de exercer seu ofício", avalia a consultora na área de educação Guiomar de Mello. Para se ter uma medida do problema, nada menos do que 3 500 professores de São Paulo cravaram nota zero em uma prova aplicada, em dezembro, pela própria secretaria. Não custa lembrar que o propósito dessa prova era medir o domínio que eles tinham das matérias que já ensinavam – nenhum. Além da deficiência em relação aos conteúdos, faltam-lhes noções mínimas sobre técnicas didáticas. Apenas 20% das aulas nos cursos de pedagogia se dedicam às metodologias de ensino, e raras vezes os alunos têm alguma experiência prática antes de pisar numa sala de aula como professor. "A escola de formação de docentes é justamente uma resposta às lacunas deixadas pelas faculdades", diz o secretário de Educação do estado de São Paulo, Paulo Renato Souza.

O contato dos aspirantes a professor com o dia a dia de uma sala de aula é regra – e não exceção – em países de bom ensino, como Coreia do Sul e Finlândia. Em Cingapura, considerado um dos países mais eficazes do mundo na formação de seus docentes, pelo menos 30% do currículo nos cursos para professor é cumprido dentro dos próprios colégios. "Funciona como uma espécie de residência médica para os futuros profissionais. Eles são acompanhados pelos professores mais experientes, que os orientam e indicam as melhores práticas de ensino", define Lee Sing Kong, diretor do National Institute of Education de Cingapura. No Brasil, para ocuparem alguns cargos no serviço público, como diplomata ou auditor da Receita Federal, os candidatos precisam passar por um treinamento antes de assumir o posto (mesmo depois de aprovados em concursos). Se forem bem, aí sim serão efetivados. Na educação brasileira, nunca houve nada parecido com o modelo proposto, na semana passada, pelo governo de São Paulo. É, sem dúvida, uma boa notícia num país que ainda precisa avançar – e muito – em sala de aula.




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