Educação, política de Estado Merval Pereira
Política

Educação, política de Estado Merval Pereira



O Globo - 25/08/2009
 

A entrevista do economista Geraldo Langoni, da Fundação Getulio Vargas, no GLOBO de domingo, em que ele afirma que investir em educação é mais importante para o futuro do Brasil do que o petróleo do pré-sal, é uma atualização de seu pensamento sobre o assunto, já explicitado na década de 70 do século passado por um trabalho famoso que mostrava que a taxa de retorno da educação no Brasil era muito alta já naquela época. Hoje, estudos demonstram que, a cada ano de escolaridade acrescentado, o salário aumenta cerca de 10%, principalmente no ensino básico. E, apesar disso, não foi feita a opção de investir em educação.

O livro "Educação básica no Brasil — construindo o futuro do país", recentemente lançado, mostra que somente a partir da década de 90 do século passado finalmente a ficha começou a cair. Coordenado pelos economistas Fernando Veloso, Samuel Pessoa, Ricardo Henriques e Fabio Giambiagi, o livro mostra que desde o governo Fernando Henrique, e com certa continuidade no governo Lula, embora não muito linear, especialmente a partir da gestão do ministro Fernando Haddad, o Brasil começou a reverter um pouco essa história.

Primeiro universalizando o acesso, embora sem universalizar a conclusão, e construindo um arcabouço de avaliação para poder melhorar a qualidade do ensino. O Brasil demorou muito tempo para acordar para a importância da educação, e, para os autores do livro, temos que passar da fase de "mais educação" para uma educação de mais qualidade.

Segundo Fernando Veloso, do Ibmec do Rio, é um processo lento, mas a mensagem dos gráficos é positiva: a taxa de conclusão, tanto do ensino fundamental quanto do médio, aumentou significativamente, embora esteja ainda bem abaixo do que deveria ser.

Por exemplo, em 1995 a taxa de conclusão do ensino fundamental era de 30%, e, em 2007, passou para 60%. Já no ensino médio, girava em torno de 15% e passou para a casa dos 45%, num período relativamente curto.

Nesse período, lembra Veloso, surgiram vários movimentos na sociedade civil pela melhoria da educação, entre os quais destaca o "Todos pela Educação", que trabalha inclusive com o MEC.

As cinco metas propostas são as seguintes: toda criança e jovem de 4 a 17 anos na escola; toda criança plenamente alfabetizada até os 8 anos; todo aluno com aprendizado adequado à sua série; todo jovem com o ensino médio concluído até os 19 anos; investimento em educação ampliado e bem gerido.

Lançado em 2005, o movimento "Todos pela Educação" fez um primeiro balanço no fim de 2008, mostrando que os avanços aconteceram, mas que ainda temos muito chão a percorrer.

O movimento é organizado por um grupo de empresários e especialistas em educação que decidiu se unir para, além dos projetos que fundações ou ONGs das quais participam fazem na área de educação, criar um movimento para qualificar a demanda do ensino.

Uma das metas, por exemplo, de que todo jovem esteja com o ensino médio concluído até os 19 anos, teve superados os objetivos propostos para 2007, mas para que se chegue a 2022, no bicentenário da independência do país, com educação de qualidade para todos, é grande o desafio de corrigir o fluxo escolar.

O fato de mais da metade dos jovens não concluírem o ensino médio na idade correta, o mesmo acontecendo com quase 40% do ensino fundamental, revela que o Brasil está longe de garantir bom fluxo escolar para seus alunos, diz o primeiro balanço do movimento.

Para Fernando Veloso, na questão da qualidade, era preciso primeiro medir, e o país não tinha até a década de 90 um termômetro para isso.

Os avanços nesse setor foram importantes.

Em 1995, criou-se o novo Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) e, a partir daí, pode-se construir uma série histórica de notas. Depois veio a Prova Brasil, em 2005, que é feita em todas as escolas públicas de 4aa 8asérie. Passamos a não apenas ter um diagnóstico, como uma nota para cada escola pública.

Depois veio o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que combina a Prova Brasil com um índice de aprovação, "para evitar que escolas melhorem suas notas expulsando o pior aluno, e penaliza a evasão e a repetência".

Veloso vê nisso "um processo evolutivo que vai começar a dar resultados". Segundo ele, o MEC tem trabalhos interessantes, como, por exemplo, analisar o resultado da Prova Brasil em escolas de locais desfavoráveis, com um ambiente socioeconômico difícil, no interior do Nordeste, e constatar que várias escolas já mostraram saltos expressivos na nota.

O resultado já está sendo mapeado. O próximo passo agora, diz Fernando Veloso, "é pegar esses casos isolados de sucesso e institucionalizá-los nas políticas públicas para melhorar todo o sistema".

Para Fernando Veloso, "esse é um processo lento; a sociedade não está muito acostumada a trabalhar com metas na educação, é uma experiência nova". Ele vê "um papel fundamental" da sociedade, de fazer pressão sobre gestores, diretores de escolas e professores, para fazer a cobrança.

"Isso funciona muito bem na Coreia do Sul, onde os pais têm a maior preocupação com a qualidade da educação e efetivamente cobram isso das escolas".

Embora o Brasil ainda esteja no início desse processo, no livro "Educação básica no Brasil — construindo o futuro do país" são analisadas essas novas ferramentas que apontam, segundo Veloso, para "um final otimista".

Esse processo "não tem receitas, não tem fórmulas mágicas, é lento, é difícil, o resultado nem sempre é imediato, mas como está resistindo, e passando de governo para governo, está virando uma política de Estado".




loading...

- Mec Amplia Currículo Alternativo Para Tirar Ensino Médio Público Da Crise
Do:G1 Neste ano, 1.660 escolas da rede pública aderiram ao Programa Ensino Médio Inovador (Proemi), criado em 2009 pelo Ministério da Educação com o objetivo de reformular uma das mais problemáticas etapas do ensino. No total, segundo o Ministério...

- Desastre Da Pobre Educação Pobre De São Paulo? O Que Falta Para O Paulitsta Se Convencer Que Há Um Desgoverno Em São Paulo?
EM SP, ALUNO SAI DA REDE PÚBLICA 3 ANOS DEFASADOENSINO DE SP TEM MELHORA, MAS SEGUE RUIMAutor(es): FÁBIO TAKAHASHI e TALITA BEDINELLI DA REPORTAGEM LOCALFolha de S. Paulo - 27/02/2010 Os resultados do Saresp, prova de português e matemática aplicada...

- Pisa, (poucos) Avanços - Merval Pereira
O GLOBO - 13/12 Nos últimos dias, dois fatos mostram que não estamos bem nos diversos níveis de nossa Educação. No Pisa (em português, Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), uma avaliação internacional comparada para alunos...

- Condenação Do Futuro - Roberto Freire
BRASIL ECONÔMICO - 24/08Herdeira do Iluminismo, a esquerda tem na luta por uma maior igualdade entre as pessoas o seu valor essencial. Essa luta é travada principalmente no campo da educação. Dar oportunidades iguais às crianças para que elas se...

- Qualidade Em Xeque Merval Pereira
O GLOBO - 18/09/11 O resultado do mais recente Exame Nacional de Ensino Médio (Enem), que revelou um incrível desnível das escolas públicas em relação às escolas privadas do país, além de colocar em discussão a qualidade do ensino em si, está...



Política








.