Por Isabelle Azevedo, na Carta Maior
Com uma população de pouco mais de dois milhões de habitantes, Fortaleza é a maior cidade governada pelo PT. O partido está há quase oito anos governando e tem o desafio de conseguir emplacar um terceiro governo. A cidade se tornou uma das prioridades do partido nesta eleição.
Não é à toa que a campanha petista, que já contou com a presença de vários ministros do governo Dilma e do presidente nacional do PT, Rui Falcão, recebeu, na última terça-feira (23), o ex-presidente Lula. Uma multidão de 50 mil pessoas compareceu à Praça do Ferreira, palco de lutas históricas da cidade, para acompanhar o comício que contou com a presença da atual prefeita Luizianne Lins, do senador José Pimentel, e de deputados federais e estaduais.
Desta vez, a missão de representar o projeto petista e partidos coligados para Fortaleza coube a Elmano de Freitas (PT), 42, que disputa a Prefeitura com Roberto Cláudio (PSB), 37. Candidato a prefeito pela primeira vez, Elmano é advogado formado em Direito pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Na gestão da atual prefeita Luizianne Lins, foi coordenador do Orçamento Participativo; atuou no núcleo de governo da Prefeitura, tendo passado pela Secretaria de Finanças e, antes de sair para a disputa eleitoral, era o titular da Secretaria de Educação.
“Eu estou numa campanha em favor de um projeto que tem transformado o Brasil e Fortaleza. Numa cidade que é a capital nordestina que mais gerou emprego com carteira assinada, é a capital do Nordeste que mais recebe visita de turistas do país inteiro. É a cidade em que tínhamos 94 mil famílias do Bolsa Família e por nosso investimento em assistência social, hoje nós temos mais de 204 mil famílias. Numa cidade que construiu o maior equipamento de saúde da mulher, o Hospital da Mulher de 27 mil metros quadrados que conta com mil servidores nele trabalhando, especializados na atenção à saúde da mulher”, afirmou o petista em entrevista à Carta Maior.
Saúde
Embora o candidato petista comemore os bons resultados em Fortaleza, durante a campanha, a atual gestão tem sido duramente criticada em relação à saúde. Este ano, Fortaleza foi classificada pelo Índice de Desempenho do Sistema Único de Saúde (SUS), dentre um grupo de cidades de mesmo porte, como a quinta pior a oferecer atendimento do SUS.
“Eu diria que saúde é o desafio de todos os mais de cinco mil prefeitos que estão sendo eleitos. É o maior desafio dos governadores, é o maior desafio da presidenta Dilma. Nós temos em todas as cidades, a saúde como grande tema, com maior dificuldade para o nosso povo. Aqui em Fortaleza, nós aumentamos o número de médicos e precisamos aumentar ainda mais. Nós precisamos contratar mais enfermeiros, nós precisamos fazer reforma nos nossos postos, aumentar a produção com mais profissionais dos nossos hospitais secundários. São desafios enormes”, pontuou o petista.
Ele destaca ainda que Fortaleza vive uma sobrecarga de pacientes vindo do interior do estado para serem atendidos nos hospitais da capital. “Nós temos um grande hospital de urgência e emergência que custa ao município ou ao poder público cerca de 20 milhões e o Governo do Estado colabora apenas com 400 mil reais de 20 milhões custo/mês”.
Elmano aponta ainda um outro agravante para piorar os índices de saúde: a de que metade de Fortaleza não tem esgoto. “Na década de 70 foi feita a concessão para uma empresa estadual e infelizmente a empresa não conseguiu nos últimos anos reduzir a área não coberta por saneamento. Nós precisamos rediscutir as metas por essa empresa para que nós tenhamos a condição de melhorar a condição de vida e de saúde do nosso povo, garantido saneamento em toda a cidade”.
Relação com o PSB
A crítica ao Governo do Estado expõe uma fissura não apenas administrativa, mas na relação PT-PSB. Aliados em Fortaleza até o início do processo eleitoral, os dois partidos protagonizam uma das eleições mais acirradas do país, neste segundo turno. A disputa coloca em discussão o projeto popular que governa a prefeitura de Fortaleza contra um projeto que, segundo Elmano, representa uma “oligarquia familiar”.
A família em questão é a dos Ferreira Gomes, composta pelos irmãos Cid Gomes (PSB), atual Governador do Ceará e presidente estadual do partido; Ciro Gomes, ex-deputado federal e ex-ministro dos governos Itamar Franco (1994) e Lula (2004); e ainda pelo deputado estadual Ivo Gomes, ambos também no PSB. O gosto dos irmãos pela política é uma herança do pai, José Euclides Ferreira Gomes Júnior, que, no final da década de 70, foi prefeito de Sobral, a 238 km de Fortaleza.
Para Elmano, o PSB do Ceará não é o mesmo de 1986, quando os petistas fizeram pela primeira vez aliança com o partido. “Fundamentalmente, a grande mudança é que o PSB do Ceará e recentemente em Fortaleza virou um PSB que é comandado por uma família e não é mais um partido político”, disparou.
O petista afirma ainda que, a partir de 2011, o governador Cid Gomes delegou ao seu irmão, Ciro Gomes, a articulação política do PSB. “Isso fez retirarem o ex-deputado Sérgio Novais, que é uma pessoa histórica no PSB do Ceará, da presidência do PSB municipal, arrancando-o a força da direção do partido. Evidentemente que o PSB de agora não é o mesmo das nossas relações históricas. Agora, não temos uma relação com o PSB, nós temos uma relação de disputa com os Ferreira Gomes”, afirmou Elmano que desde o primeiro turno conta com o apoio do campo histórico do PSB, a chamada Esquerda Socialista.
Participação popular
A campanha do petista tem recebido diversas adesões populares como o MST, o MAB e a Via Campesina. Além destes, movimentos como a Consulta Popular, a Central dos Movimentos Populares do Ceará e a Pastoral do Povo de Rua de Fortaleza também declararam apoio a Elmano em ato que contou com a presença do membro da direção nacional do MST, João Pedro Stédile.
O petista também recebeu ainda o apoio de todas as centrais sindicais do estado (CUT, CTB, Conlutas, Força Sindical, Nova Central), sob o aval do presidente nacional da Central Única dos Trabalhadores, Vagner Freitas.
De fato, o fortalecimento da participação popular e do diálogo dos movimentos com a atual administração representou uma marca da gestão petista. “Fortaleza tinha apenas 3 conselhos de participação funcionando. Hoje nós temos 16. Eu quero estruturar mais esses conselhos. Instituir os conselhos das ZEIS [Zonas Especiais de Interesse Social] que são zonas em Fortaleza em que o Plano Diretor definiu áreas de desenvolvimento para interesse social das comunidades. Nós vamos, portanto, descentralizar o poder de decisão do desenvolvimento local”.
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