O pacotão americano de salvação dos bancos está aprovado. Os enfeites pendurados na árvore de Natal não mudaram substancialmente a natureza do plano.
Se, na segunda-feira, a Câmara dos Representantes o rejeitou, foi unicamente por questões eleitoreiras. Ontem, a mesma Câmara o aprovou, também por questões eleitoreiras.
Segunda-feira, os eleitores exigiam que se aplicasse um exemplar castigo nos bancos irresponsáveis. Ontem, os mesmos eleitores exigiram que não fossem atingidos pelo castigo dos bancos.
Quer dizer, foram precisos alguns dias para que os políticos percebessem que a derrocada dos bancos atingiria o próprio correntista, o aplicador, o proprietário de casa própria, o futuro aposentado... Enfim, seu eleitor, que em seguida os cobraria por tudo.
A principal tarefa do secretário do Tesouro americano (Henry Paulson até meados de janeiro de 2009 e depois seu sucessor) será arbitrar o preço pelo qual será comprado o lixo tóxico que está nos balanços dos bancos.
Um dos principais problemas hoje, o mesmo que está na raiz da tremenda crise de confiança dos mercados, é a falta de critério para remarcar esses títulos a valor de mercado. Sem essa noção, não dá nem para medir o rombo dos bancos nem para ponderar sua capacidade de sobrevivência. Não dá para saber nem mesmo quanto valem os imóveis que todos os dias são postos à venda.
O secretário do Tesouro provavelmente vai definir o preço e empurrá-lo goela abaixo dos bancos. Não pode ser muito baixo porque, nessas condições, muitos bancos de porte estariam quebrados e, afinal, o pacote veio em socorro deles. E não pode ser muito alto porque, nesse caso, não haveria o que chegasse e não se terá saneado o mercado. Será um complicado exercício de tentativa e erro, um enorme ensaio sobre a cegueira.
Com base nesse novo chão, será preciso recapitalizar os bancos, de maneira a poderem suportar os ativos que manterão em carteira. À medida que o mercado de ações se recuperar, esse segundo ato pode ser facilitado. Mas sabe-se lá quanto tempo durará o processo e que outras implicações trará para as finanças públicas.
Neste fim de semana, os maiorais da Europa estarão reunidos em Paris para decidir se aprovam uma versão européia do pacote americano, tal como sugerida pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy. Lá, as coisas são mais complicadas, mas, se não houver acordo, cada governo terá de se virar por sua conta.
A cobertura do pacote mais os extras agora inevitáveis não virá de emissões de moeda. Virá do lançamento de títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Nos próximos meses, o Tesouro terá de colocar no mercado pelo menos US$ 1 trilhão em T-Bonds, hoje o refúgio mais procurado pelos aplicadores.
Por aí se vê que os recursos existem. Eles só não estão disponíveis porque o medo global os bloqueou nos esconderijos. Se os recursos estão no mercado e serão devolvidos ao mercado, tudo não passará de uma enorme operação de transferência de titularidades e realocação de garantias. A expectativa é de que seja passo importante para a volta da confiança. É coisa para conferir.
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