Entre a epistemologia científica e a epistemologia curiosa.
Política

Entre a epistemologia científica e a epistemologia curiosa.


O ser humano sempre produziu conhecimento a partir da experimentação, da observação dos fenômenos físicos, naturais e biológicos. Na verdade as grandes descobertas e invenções do homem foram realizadas através da observação dos fenômenos da natureza pelo homem e de certa forma este conhecimento é utilizado como instrumento de dominação ou transformação. No entanto, na escola o fazer pedagógico está encalacrado em quatro paredes com poucas interações com meio ambiente natural e cultural de meninos e meninas. 

Francis Bacon acreditava que saber é poder no sentido de transformar ou dominar.  Paulo Freire acreditava que o saber pode ser utilizado como instrumento de dominação ou transformação. FAUNDES,(1993) afirma que a estrutura política da sociedade é que define a quantidade de poder de que disporão aqueles que detêm a cultura e o conhecimento. Por isso, que o conhecimento é um ato que se fundamenta sobre o poder das classes dominantes, porquanto os intelectuais reproduzem estas relações sociais de dominação social. Hoje as decisões das organizações empresariais são dependentes de conhecimento, porquanto saber é poder.
Nesta linha de pensamento é importante discutir conhecimento experimental do conhecimento científico, mesmo porque nas descobertas e resignificações da natureza o homem produz um tipo de conhecimento chamado empírico ou experimental. Já o conhecimento científico é resultado da investigação científica através de métodos (método cientifica).  É este que estamos buscando, estamos aqui sempre na linha entre o senso comum, mesmo porque somos seres historicamente construídos, e o conhecimento sistematizado pela humanidade, ambos extremamente importantes para as pessoas.
Nesse sentido, SAIZ, escreve que o homem é um ser que faz questionamentos existenciais, e que tem que interpretar a si e ao mundo em que vive atribuindo-lhes significados. Cria representações significativas da realidade, as quais chamamos conhecimento.
Segundo Freire (2000) o trabalho produtivo é fonte de conhecimento. Com a enxada preparamos os campos para a sementeira e ajudamos a construir um país novo. Porque todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos alguma coisa. Por isso aprendemos sempre.” Ainda para o autor não se estuda apenas na escola, os agricultores estudam enquanto preparam a terra e pela interação homem e natureza, mas o povo (trabalhadores) tem o direito de conhecer melhor  o que já conhece em razão de sua prática e seu trabalho e as experiências desse trabalho.
Nessas reflexões, Leff (2002) afirma que as organizações indígenas e camponesas reclamam a apropriação de seu patrimônio histórico de recursos ecológicos e culturais para conservá-los e transformá-los através de valores culturais e princípios de autogestão, isto é, de processos que rompem as regras do jogo da ordem econômico-ecológica estabelecida, e suas formas de percepção e negociação da sustentabilidade.
Para o educador “dialógico" isto dizer que os camponeses devem permanecer no estado em que se encontram com relação a seu enfrentamento com o natural e á sua posição em face da vida política do país. Queremos afirmar que eles não devem ser considerados “vasilhas” vazias nas quais se vá depositando o conhecimento dos especialistas, mas, pelo contrário, sujeitos, também, do processo de sua capacitação. Capacitação indispensável ao aumento da produção, cuja necessidade, demasiado óbvia, não necessita ser discutida. O que, porém, não apenas se pode mas se deve discutir, é a forma de compreender e de buscar o aumento da produção. 
Portanto, concordando com FREIRE (1982), não podemos fazer uma ruptura entre a epistemologia científica com a “epistemologia curiosa” dos agricultores, mesmo porque a “leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra” e a leitura desta implica a continuidade da leitura daquele porque os procedimentos empíricos dos camponeses se encontram condicionados histórico-culturalmente e os conhecimentos dos especialistas são manifestações culturais tanto quanto o comportamento empírico dos camponeses. Um conhecimento não sobrepõe ao outro porque ambos se complementam.
Quando se impõe o conhecimento científico, impõem-se também ideologias e  a historia mostra que a cultura de povos, línguas foram destruídas pelos conhecimentos científicos.  Como exemplo podemos citar a agricultura convencional  com agrotóxicos (conhecimento científico), aliada agora com a transgenia,  sobrepondo à agricultura familiar e ao conhecimento historicamente construído. Os agricultores precisam de orientação, mas não sacos vazios de conhecimentos como alguns percebem.

REFERÊNCIAS

FREIRE, PAULO. Ação Cultural para a Liberdade. Rio de Janeiro. Paz e Terra, 1982
FAUNDEZ, Antonio. O poder da participação. São Paulo, 1993.
LEFF, Henrique. Epistemologia Ambiental; tradução de Sandra Valenzuela; revisão técnica de Paulo Freire Vieira. São Paulo. Cortez, 2002.





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