Escolas atraem os pais com bons programas
Política

Escolas atraem os pais com bons programas


Participação nota 10

Escolas brasileiras começam a criar bons programas para
atrair os pais. Com eles por perto, o desempenho melhora


Camila Pereira

Roberto Setton
Boletim virtual Os advogados Paulo e Maria Amélia com
os filhos: a internet mostra o que eles aprendem na escola


Com a participação ativa dos pais na vida escolar, a nota dos alunos é cerca de 20% maior

A internet, que até há pouco tempo ficava restrita às raras aulas de computação, começa a se prestar ao propósito de despertar a atenção dos pais para o que se passa na sala de aula de escolas brasileiras. Os colégios na vanguarda desse processo colocam na rede o boletim dos alunos, a lição de casa e um roteiro diário das aulas. Os pais podem ainda trocar e-mails com os professores, para que se mantenham atualizados sobre os filhos sem necessidade de ir à escola. Vem sendo um estímulo para gente como o casal de advogados Paulo e Maria Amélia Meneguetti. Para eles, absorvidos por uma jornada de trabalho puxada, era difícil encontrar tempo para acompanhar a rotina dos filhos, Bianca, 10 anos, e Caio, 14. O fato de a Escola Internacional de Alphaville, em São Paulo, ter aderido à internet proporcionou-lhes algo raro, segundo o pai: "Entre uma reunião e outra, consigo acompanhar pelo computador o que eles estão aprendendo. Agora, posso ajudar mais". Novidade no Brasil, a internet tem tido uso semelhante, há pelo menos uma década, em países onde a família participa ativamente da vida escolar, como Coréia do Sul e Japão. Também por isso os resultados dos estudantes lá são tão satisfatórios. Afinal, nenhum outro fator, além da qualidade dos professores, está tão associado ao bom desempenho das crianças quanto o envolvimento dos pais. Uma nova pesquisa, conduzida pelo economista Naercio Menezes, do Ibmec, deu os números. Quando os pais estão em cena, as notas podem melhorar até 20%.

Por que, afinal, a participação dos pais conta tanto para o aprendizado? As razões também foram mapeadas por diversos pesquisadores. Primeiro, as crianças precisam de ajuda para manter a disciplina exigida pelos estudos. E os pais contribuem para isso ao estabelecer uma rotina que preserve tempo para a revisão da matéria e o cumprimento da lição – duas das atividades com maior impacto no resultado escolar. Proporcionar um ambiente favorável aos estudos também pesa. Está provado que alunos que contam com uma boa biblioteca e um computador em casa são os que figuram entre os melhores. Outro papel decisivo da família é ajudar a despertar o interesse das crianças pelas aulas. Associar tarefas do dia-a-dia a conhecimentos de matemática e ciências serve de estímulo a que elas enxerguem uma aplicação prática para aquilo que aprenderam no colégio. Diz Naercio Menezes, autor da pesquisa: "Os números mostram que esse conjunto de medidas tão simples é fundamental para o bom desempenho escolar".

Fabiano Accorsi
DE PINTORES A TESOUREIROS Em São Paulo 
(acima)
 e no Tocantins, programas incentivam 
os pais a participar ativamente da rotina escolar

Ana Araujo

A experiência internacional revela que as escolas têm um papel decisivo na aproximação dos pais com os assuntos acadêmicos. As coreanas chegam a oferecer cursos para deixá-los em dia com as matérias ensinadas aos filhos. As classes lotam. Não há nada parecido no Brasil, onde os pais são mais lembrados por sua ausência na escola. Uma pesquisa recente mostra que metade deles se assume alheia ao que acontece na sala de aula. Para piorar o cenário, as escolas não fazem muito para ajudar. Por isso, bons exemplos, como o do Colégio Estadual Padre João Botelho, em Belo Horizonte, merecem atenção. Há cinco anos, promovem-se ali animados encontros que em nada lembram as burocráticas reuniões bimestrais. Nessas ocasiões, os pais recebem orientações bem práticas, perguntam à vontade e têm a chance de conversar entre si. "Os novos encontros são tão produtivos que eles deixaram de ficar apáticos e com a incômoda sensação de que perdiam tempo", conta a diretora Eliani França. A escola, que também permite que os pais assistam a certas aulas para se inteirar das matérias, não gastou um centavo a mais com tais medidas. O efeito delas, no entanto, é bom – e mensurável. O colégio cumpriu a meta de desempenho estabelecida pelo Ministério da Educação cinco anos antes do previsto.

Outra contribuição que os pais podem dar à qualidade do ensino é permanecer vigilantes em relação à administração da escola. Quando eles fiscalizam como o dinheiro do governo ou deles próprios é aplicado, a probabilidade de que os gastos sejam mais racionais e eficazes aumenta exponencialmente. Os alunos saem ganhando, como revela o caso do Tocantins. Lá, o governo estadual implantou um sistema em que os pais ocupam cadeiras no conselho responsável pelas decisões financeiras da escola. No Centro de Atenção Integral à Criança, em Palmas, seis deles têm vaga no tal conselho. Até das licitações abertas pelo colégio eles participam. A tesoureira Irailde de Oliveira, mãe de dois alunos, resume a lógica local: "Economizamos em tudo, porque está claro que o dinheiro que sobra será útil às crianças". Na prática, o grupo de familiares no comando ajudou a equipar as salas com retroprojetores, aparelhos de som e câmeras digitais para experiências fotográficas, com as quais as crianças sonhavam havia tempos. Diz a tesoureira: "Como estamos sempre na escola, não nos escapa nenhum detalhe". Ela e outros pais atentos ao que se passa na sala de aula contribuem para algo que, no Brasil, é preciso perseguir com urgência: um bom ensino.




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