Política
Esperando o fiasco da China... - JOSÉ PASTORE
O ESTADÃO - 17/07Com as notícias de desaceleração da economia da China, inúmeros analistas começam a duvidar do vigor daquele país. Uma reportagem especial da revista The Economist (26/5) destacou vários fatores perversos ao crescimento chinês: o desequilíbrio entre investimento e consumo; a exagerada dependência de petróleo importado; a poluição excessiva; a falta de água e a escassez de mão de obra devido à regra de um filho por família. Vários autores especulam que o aumento acelerado dos salários retardará o ritmo do crescimento da China (Shaum Rein, The end of cheap China, New Jersey: John Wiley & Sons, 2012).Em contraste com esse cenário, o Brasil teria claras vantagens comparativas em relação à China: água em abundância, matriz energética limpa, petróleo para dar e vender, etc. Os salários estão abaixo do que se paga no mundo desenvolvido. Ou seja, teríamos aí uma boa chance para entrar no vácuo decorrente de uma eventual retração do crescimento chinês.É verdade que o crescimento da China desacelerou. Será menos de 8% neste ano. Mas o país não está parado. Para resolver a escassez de recursos naturais, a China vem investindo pesadamente na África e na América Latina. A escassez de mão de obra nas cidades vem sendo enfrentada com a facilitação da migração rural-urbana. A explosão dos salários é contrabalançada por um forte aumento da produtividade decorrente da modernização tecnológica e, sobretudo, da crescente qualificação dos trabalhadores.No caso do Brasil, o custo do trabalho vem disparando, sem contrapartida de um aumento de produtividade. Os gargalos de infraestrutura não se resolvem em tempo hábil. As reformas tributária, trabalhista e previdenciária estão engavetadas. As medidas pontuais são insuficientes para reaquecer o mercado.Para complicar o problema da baixa produtividade do trabalho, o País decidiu desestimular os investimentos em capital humano que vinham sendo feitos pelas empresas. Refiro-me à Lei 12.513/2011 que passou a tributar aqueles investimentos - até então isentos. Um verdadeiro absurdo no momento em que o Brasil precisa melhorar a educação e alavancar a produtividade.A China, ao contrário, continua fazendo investimentos maciços nesse campo. Em recente publicação, fiquei sabendo que as matrículas no ensino superior foram multiplicadas por seis nos últimos dez anos, tendo chegado a quase 20% dos jovens na idade respectiva (no Brasil é de 10%).O Programa Ciência sem Fronteiras é louvável, sem dúvida. O Brasil pretende enviar 110 mil estudantes para o exterior ao longo dos próximos anos. Mas, para mostrar que a corrida é em relação a um ponto móvel, basta lembrar que só em 2008 a China enviou 180 mil estudantes às melhores universidades do mundo e vem fazendo isso todos os anos (James J. Heckman e Junjian Yi, Human Capital, Economic Growth, and Inequality in China, Bonn: Institute for the Study of Labor, maio de 2012).O resultado é conhecido: 45% do crescimento chinês é atribuído aos ganhos de produtividade decorrentes de melhorias do capital humano. Enquanto isso, a produtividade do trabalho no Brasil cai a cada ano ao mesmo temp que salários e benefícios sobem acima da inflação. O descasamento entre custo do trabalho e produtividade está afetando em cheio a competitividade das indústrias brasileiras.Os que acreditam no crescimento brasileiro à custa de um fiasco chinês terão de aguardar muito tempo. A busca de maior eficiência é a mais prioritária medida a ser implementada se queremos ganhar a corrida com a China, de quem tanto dependemos. Dentre as várias providências a serem operadas tem destaque a melhoria da qualidade da educação - a começar pela revogação da referida lei que desestimula as iniciativas privadas nesse campo.
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