As economias americana e chinesa dão alguns sinais de alívio e no Brasil o governo já trabalha com a hipótese de crescimento de 2% neste ano. O ministro da Fazenda fala mesmo em 4% no último trimestre. Para ele, talvez a economia mundial tenha chegado ao fundo do poço e o ciclo da crise tende a ser menor. Isto é, a recuperação estaria mais próxima do que se previa até agora. E levanta-se de novo a questão: a economia brasileira vai entrar em recessão ou não? Essa também tem sido a dúvida persistente dos leitores, na maioria dos e-mails que manda todos os dias. ALÍVIO Parece se desenhar um novo cenário de alívio beneficiando o Brasil. Será? A resposta do governo é sim. Dá para entender. Ele não pode passar a imagem de pessimismo, agravando ainda mais a desconfiança do consumidor que se retraiu temendo pela perda do seu emprego. O presidente atribui mesmo 50% da crise ao pânico. POUCO IMPORTA A resposta a essa dúvida nada existencial é que pouco importa saber se a economia brasileira vai entrar ou não em recessão técnica - queda do Produto Interno Bruto por dois trimestres consecutivos. Esse conceito generalizado já foi abandonado pelos Estados Unidos para os quais recessão é quando a economia registra forte desaceleração medida, inclusive, pelo aumento do desemprego. E é exatamente isso o que está acontecendo no mundo e no Brasil. Não há como negar. Se o Produto Interno Bruto crescer ou recuar 0,5% em dois meses consecutivos ou em dois trimestres, o resultado é o mesmo. Queda do consumo, da produção, do desemprego. E não é isso o que estamos vendo, neste momento, no Brasil? A economia não se retraiu violentamente - de mais 1,7% no terceiro trimestre para menos 3,6% no quarto trimestre de 2008? E o desemprego não continua pressionando a economia apesar do ligeiro aumento de março? Portanto, com recessão técnica ou não, podemos dizer que o Brasil está entrando em recessão, mesmo porque, como afirma Affonso Celso Pastore, o mundo está em recessão. QUANTO VAI CRESCER? Nem mesmo na equipe econômica do governo há consenso sobre a previsão de crescimento neste ano: 4% ou 2%? Eis a questão. Talvez a estimativa mais correta seja do Banco Central. Ele não hesitou nem um pouco em rever suas previsões. Começou admitindo um crescimento do PIB de 3,2%, mas, com o agravamento do cenário externo, recuou para 1,2%. E, como sempre, continuará revendo suas estimativas para cima ou para baixo de acordo com a evolução da crise. O Banco Central tem o mérito também de sondar e divulgar as estimativas dos principais agentes do mercado financeiro sobre os indicadores econômicos. E, na última, enquanto o mercado reduzia sua estimativa para apenas 0,3%. TEMPOS MAIS ARMAS Felizmente, o governo vem adotando medidas anticíclicas importantes, como a redução de impostos em setores de consumo popular e, ao mesmo tempo, empregadores. E isso mesmo que seja ao custo da redução do superávit fiscal. É uma decisão difícil, mas que as dimensões da crise impõem. Há mais ainda fazer, como a coluna tem afirmado, refletindo o pensamento dos economistas mais pragmáticos. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles está certo ao lembrar que estamos em situação melhor que os outros porque, quando entrou na crise, o Produto Interno Bruto do Brasil estava crescendo a uma taxa anualizada de 6,8% principalmente por causa de uma demanda interna que também avançava vigorosamente, 9,3%. Essa é a razão pela qual ele prevê que sairemos da crise antes dos outros países. Mas, a folga que o crescimento anterior nos proporcionou se desgastou nos três primeiros meses deste ano. Assim, a previsão somente se confirmará se mais medidas tributárias, fiscais e monetárias forem aplicadas com máximo vigor nos próximos meses, mesmo porque não se espera que a economia mundial se recupere neste ano. E volta a pergunta: mas haverá recessão no Brasil? Sim, no conceito de que a economia continuará se retraindo, crescendo ou recuando em torno de 0,5% ou 1%. Os resultados das medidas que forem agora implementadas, mesmo se forem vigorosas, somente começarão a ser sentidos ao longo dos meses. É fácil cair na recessão. Difícil é sair dela.
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