Política
EUA tiram nota baixa; e o Brasil? VINICIUS TORRES FREIRE
FOLHA DE SP - 07/08/11
Governo não vai mexer nas aplicações nos EUA, diz Mantega, que teme vinda de nova torrente de dólares
do dinheiro que o Brasil aplica em dívida de outras países, cerca de 70% está investido em títulos da dívida dos Estados Unidos.
Agora que a dívida pública federal americana não é mais "nota 10" o Brasil pode continuar a aplicar nos EUA? Não só pode como não tem muita alternativa, como qualquer grande investidor do planeta.
Na sexta-feira, a nota de crédito do governo dos EUA foi rebaixada de AAA para AA+ pela desacreditada mas legalmente importante agência de risco Standard & Poor's.
"Seria obviamente uma insensatez o país se desfazer de dezenas de bilhões de dólares em títulos de suas reservas. Nem teria como vender. Venderíamos para quem? Para Marte? Aliás, não há muito o que fazer com a grande massa de títulos americanos que o mundo detém. Você vende e compra o quê?", disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega à Folha, quando ainda se discutia a possibilidade de calote dos EUA.
Segundo o mais recente "Relatório de Gestão de Reservas Internacionais" do BC, de agosto de 2010, 96% das reservas estavam aplicadas em ativos AAA (nota máxima) e 4% em ativos AA, ao final de 2009.
Ou seja, o país pode aplicar em títulos com nota inferior à máxima. Quem decide o risco, a rentabilidade e a liquidez que os ativos das reservas devem ter é a diretoria colegiada do Banco Central.
Dos US$ 348,3 bilhões de reservas internacionais do Brasil, administradas pelo Banco Central, cerca de 88% estão aplicadas em títulos da dívida de governos.
O governo do Brasil empresta dinheiro ao governo federal americano. Com aplicações de US$ 211,4 bilhões, o Brasil era em julho o quarto maior credor dos EUA (depois de China, Japão e Reino Unido).
Mantega explica que, em caso de calote ou, como aconteceu, rebaixamento da nota de crédito dos EUA, o governo relaxaria as exigências de investir em títulos AAA.
"Difícil de saber o que acontece em caso de rebaixamento da nota dos EUA. É um cenário inédito. Pode haver venda em massa de ativos americanos? Mas fica a questão: onde é seguro então guardar dinheiro? O euro está com problemas. Sobra a moeda de países pequenos com dívidas pequenas. Não dá."
Mantega observava que ainda mais dinheiro poderia vir para cá. "Parece que muita gente acha que o Brasil é um caminho. Desconfio que, em parte, essa alta recente do real contra o dólar [final de julho] se deveu ao fato de que, para alguns investidores, agora, é melhor sair de ativos em dólar e colocar dinheiro no Brasil, um porto seguro. O país é institucionalmente estável, tem um sistema financeiro seguro, o mercado tem liquidez."
Em caso de nova crise grave, com paralisia do mercado de crédito mundial, com em 2008, o Brasil não teria política nova, diz o ministro.
"Não temos nenhum plano de contingência, ou melhor, nenhuma novidade nesse aspecto. Temos aqueles instrumentos essenciais que já usamos na crise de 2008. Podemos liberar linhas emergenciais de crédito, afrouxar compulsórios, o que depende do BC, mas acho que pode ser feito. No mais, já estamos tentando aumentar a segurança do mercado financeiro como um todo, com as medidas prudenciais na área de crédito e no câmbio, para evitar excessos e apostas arriscadas".
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