Como se a Europa já não tivesse problemas suficientes, com o naufrágio
da Grécia, a recessão e o endividamento, eis que surge um novo
problema. A França, que com a Alemanha, são os países mais poderosos
da UE, entra em campanha eleitoral. E os seus vizinhos estão diante de
um dilema dramático: devem escolher Nicolas Sarkozy, que talvez seja
reeleito em maio, ou apoiar seu rival, o socialista François Hollande?
No conjunto, eles estão hesitantes.
Dois países apenas fizeram uma escolha clara: a Bélgica, cujo
primeiro-ministro, o socialista Elio Di Rupo, expressou seu apoio a
Hollande. E a Alemanha, já que a chanceler Angela Merkel deu seu voto
para o amigo/inimigo Sarkozy, com quem ela comanda há dois anos toda a
economia do continente, particularmente a questão da Grécia.
Os outros países ainda se interrogam. O primeiro critério na escolha é
a preferência afetiva. Eles conhecem bem Sarkozy e não o apreciam.
Acham que é um "parlapatão". Quando dois dirigentes europeus se
encontram, sobre o que conversam? Segundo um deles, "comentamos as
maledicências que Sarkozy falou sobre nós". O duo Merkel-Sarkozy, que
se proclamou salvador da Europa, exaspera. Ao mesmo tempo, as pessoas
reconhecem que o presidente francês, apesar de suas maneiras vulgares,
é enérgico, perseverante e corajoso.
Ideias pueris. E François Hollande, o socialista que pode chegar à
presidência dentro de três meses? Ele é pouco conhecido. Não tem a
dimensão de Sarkozy. É simpático, mas não se sabe ao certo o que
pretende. Suas ideias parecem confusas, desconectadas e apresentadas
sem muito convencimento. Seus ataques virulentos e vagos contra o
dinheiro e os ricos desagradam. São considerados demagógicos, ou pior,
pueris.
Se deixarmos de lado o aspecto do "afeto", que programa os europeus
preferem? O de Sarkozy ou o de Hollande? À primeira vista, uma grande
maioria de dirigentes europeus está "farta, realmente farta" da
política de austeridade imposta pela dupla Merkel/Sarkozy. Estamos
assistindo à uma revolta contra a austeridade.
Doze países estão exigindo uma reformulação do sistema imposto pela
dupla, em favor do crescimento.
Esses 12 países, às vésperas da reunião, sexta-feira, quando será
assinado em Bruxelas um novo tratado de disciplina orçamentária,
julgam que a austeridade assustadora infligida à Europa (Grécia,
Espanha...) levarão o continente a uma recessão duradoura. E esses
países em cólera são liderados pelo italiano Mario Monti. Mas Monti
não é considerado um demagogo. É um técnico, não um "político". Ele
sucedeu o lunático Berlusconi precisamente para colocar em ordem as
contas da Itália. Pois bem, este homem "austero" hoje se declara
contra a austeridade do plano Sarkozy/Merkel.
E, aparentemente, ele se coloca ao lado do socialista François
Hollande que também exige que aquele plano seja complementado por
medidas de crescimento.
Mas, na realidade, essas convergências entre Hollande e os 12 países
contrários ao plano de austeridade são ilusórias, imaginárias.
Como Mario Monti e seus aliados pretendem "relançar o crescimento?"
Por meio da liberalização, da flexibilidade do trabalho, uma maior
abertura comercial do continente, em outros termos, por uma dose de
liberalismo econômico mais generosa do que hoje.
E isto é, bem entendido, exatamente o contrário do conceito mais
"estatal", bem menos liberal, dos socialistas franceses, e portanto de
François Hollande. / TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO