Política
Exércitos, os do "povo" e os outros-Clovis Rossi
Folha de S Paulo
Crise no Paraguai mostra falta de coordenação nas políticas de segurança regional entre os países da América Latina
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TEM TODA a razão o professor José Aparecido Rolon (USP, especialista em Paraguai) quando diz, na Folha de ontem, que o caso do EPP (Exército Popular Paraguaio) pode ser apenas "um bode expiatório" e que "há várias questões mais profundas" a examinar.
Proponho uma delas e que vai bem além do Paraguai: falta na América do Sul e, mais amplamente, na América Latina, uma política de segurança regional.
Sendo ou não o EPP um bode expiatório, o fato claro é que, nas presentes condições de temperatura e pressão no subcontinente, qualquer grupo ilegal que se diga político-ideológico acabará, mais cedo que tarde, cruzando o caminho de um grupo também ilegal e sem pretensões a verniz político-ideológico.
São apenas delinquentes. Ponto.
Quando esse cruzamento se der, o grupo supostamente político ou é cooptado pela criminalidade ou eliminado. Nenhum bando criminoso gosta de confusão na sua área provocada por terceiros porque força o governo a atuar com mais vigor, atrapalhando os negócios.
O caso das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) é o mais ilustrativo: nasceu sob o impulso do castrismo, em uma era em que a revolução socialista seduzia os jovens e, mais ainda, parecia factível. Nos últimos muitos anos, virou um grupo narcoguerrilheiro.
Acontece que, quando os governos apertam tais grupos, como o fez o presidente colombiano Álvaro Uribe, tem sido inescapável o, digamos, vazamento das atividades criminosas para países vizinhos e, às vezes, não tão vizinhos.
Os cartéis mexicanos, hoje os maiores símbolos do narcoterrorismo, encorparam depois que emagreceram os cartéis colombianos. E, quando o presidente Felipe Calderón pôs o Exército no combate a eles, ao tomar posse há três anos, parte de suas atividades delinquenciais vazou para a América Central.
Não é por acaso que recente levantamento da consultoria FTI apontou México e três países centro-americanos (El Salvador, Honduras e Guatemala) como aqueles em que mais cresceram, neste ano, os problemas de segurança (a lista inclui também Venezuela e Haiti).
A esses inevitáveis vazamentos, deve-se acrescentar o fato de que o narcotráfico, além do contrabando e do tráfico de armas, é o mais transnacional dos negócios, o que torna inevitável uma coordenação no mínimo regional se se quiser de fato enfrentar o crime organizado.
A Unasul (União de Nações Sul-Americanas) até que ensaiou promover mecanismo regional de defesa, mas esbarrou nas divergências entre Uribe e seu colega venezuelano, Hugo Chávez, agora acusado pelo general Douglas Fraser, chefe do Comando Sul dos Estados Unidos, de dar apoio financeiro às Farc.
Claro que sempre há quem despreze as acusações do "império", mas o fato é que Chávez afirmou, lá atrás e nunca desmentiu depois, que "respeita" o projeto político das Farc. Logo, deve respeitar também o do EPP. O Brasil, que faz fronteira com todas as fontes de vazamento de problemas na América do Sul, não tem nada a dizer?
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