Leandro Beguoci
Alastair Grant / AP |
ÁRDUA BATALHA Roger Federer, na partida em que derrotou Andy Roddick e conquistou seu 15º título no Grand Slam: mais de quatro horas na quadra |
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Com atuação notável nas quadras e um perfil avesso a estrelismos, nos últimos seis anos o suíço Roger Federer conquistou seu lugar entre os grandes nomes do tênis. No domingo 5, o mundo assistiu admirado à coroação de sua carreira. Ao derrotar o americano Andy Roddick e vencer o troféu de Wimbledon, na Inglaterra, ele ganhou seu 15º título nos quatro torneios da elite do tênis, conhecidos como Grand Slam. Os demais são os abertos da Austrália e dos Estados Unidos e Roland Garros, na França. Com isso, Federer ultrapassou o recorde anterior de catorze vitórias nesse circuito, que pertencia ao americano Pete Sampras, e se tornou o maior vencedor da história do tênis. Presente na plateia da partida, o próprio Sampras, que abandonou as quadras em 2003, elogiou o colega com entusiasmo: "É um jogador formidável, tem apenas 27 anos e atuará por muito tempo ainda. Deve chegar a dezoito ou dezenove títulos".
A consagração de Federer em Wimbledon teve um sabor ainda mais especial porque o atleta vinha de uma fase ruim que durou um ano e meio. Em agosto de 2008, ele perdeu o posto de número 1 do mundo para o espanhol Rafael Nadal. Chegava ao fim um período de 237 semanas consecutivas no topo do ranking. Entre 2004 e 2007, Federer ganhou, em média, dez títulos por ano. Em 2008, foram apenas quatro. Sua volta triunfal começou em junho, quando venceu Roland Garros e se juntou ao seleto clube dos seis tenistas que ganharam nos três tipos de piso do Grand Slam.
A conquista de Federer em Wimbledon teve ares épicos. A partida se estendeu por incríveis quatro horas e dezoito minutos. Foi uma das mais longas finais de um torneio do Grand Slam. Num jogo com essa duração, cada tenista dá cerca de 1 200 raquetadas, corre 5 quilômetros e perde 3 quilos. No início, uma zebra chegou a se delinear. Das vinte partidas travadas anteriormente por Federer e Andy Roddick, o suíço ganhara dezoito. Em Wimbledon, Federer perdeu o primeiro set por 7 a 5, virou o jogo, mas deixou seu adversário empatar. A vitória veio no último set – na prorrogação, como se diz no futebol.
Que qualidades de Federer o habilitam ao posto de tenista mais bem-sucedido de todos os tempos? Alguns jogadores são conhecidos pela grande destreza em algum dos movimentos do jogo. Há tenistas com saques devastadores, em que a bola é arremessada a mais de 200 quilômetros por hora, mas que não sabem arrematar os pontos na rede. Outros são craques em quadras de grama, mas são facilmente batidos em pisos de saibro. O trunfo de Federer é o equilíbrio. Ele não se destaca em um único aspecto do jogo – vai muito bem em todos eles. Além disso, não costuma sofrer lesões, como é comum no circuito dos campeões. Seu maior adversário hoje, Rafael Nadal não disputou Wimbledon neste ano, por estar machucado. Federer jogou todos os Grand Slams desde 2000, sem se machucar. "O estilo de Federer é contido e não favorece o desgaste excessivo do corpo. Ele sabe onde colocar a bola e só corre o necessário", explica Ricardo Takahashi, fisioterapeuta dos tenistas brasileiros na Copa Davis. "Ele faz o tênis parecer mais simples do que realmente é", completa Paulo Cleto, treinador da equipe brasileira de tênis em três Olimpíadas. A exemplo de Michael Jordan no basquete e Tiger Woods no golfe, Roger Federer, com suas quinze vitórias nos quatro torneios mais importantes do mundo, eleva o tênis a um novo patamar.
Fotos Tempsport/Corbis/Latinstock Etoby Melville/Reuters