Política
Feito mineiro, "comendo pelas beiradas", Meireles pode ser vice de Dilma.
MEIRELLES: A DISCRETA CAMPANHA DO PRESIDENTE DO BC PARA SER O VICE DE DILMA
POSITIVO, MEIRELLES
Autor(es): Leonardo Attuch
Isto é Dinheiro - 08/03/2010
Dilma Rousseff está mais forte. Tão forte que pode até indicar seu vice. No caso, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. E essa escolha pode não só ajudá-la a vencer a eleição de outubro como também demarcar seu futuro governo
Foto: Wildes Barbosa O Popular/Folhapress
Em sintonia: Dilma e Meirelles ainda não formam a mesma chapa, mas já participam de eventos do PAC, como o início de uma usina em Goiás
Nos últimos dias, o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, tem notado um fenômeno curioso, segundo relatos de seus interlocutores. Tem sido abordado por gente comum, que diz sempre a mesma coisa: "Se o senhor estiver com ela, eu voto." Ela, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. E o papel de Meirelles, filiado ao PMDB, seria o de vice na chapa. Nas andanças internacionais, quando Meirelles se encontra com quem "vota" de outra forma no Brasil, trazendo ou não dólares para cá, a abordagem é parecida. A mensagem é que sua entrada na sucessão significaria a continuidade da política econômica, centrada na independência do BC e no tripé formado por metas de inflação, austeridade fiscal e câmbio flutuante. Na quarta-feira 3, Meirelles embarcou para uma viagem aos Estados Unidos, para encontros com investidores, e de lá seguiu para a Suíça, onde participaria de uma reunião do BIS, o banco central dos bancos centrais. Essas idas e vindas significam que Meirelles está em plena campanha para se tornar vice de Dilma. Uma campanha feita no estilo Meirelles, ou seja, com discrição e nos bastidores. E a hipótese ganhou força com a pesquisa Datafolha, que colou Dilma no governador José Serra. A ministra cresceu e, por tabela, o presidente Lula, seu padrinho, poderá impor o nome de sua preferência ao PMDB - no caso, Meirelles.
Antes da pesquisa, imaginava-se outro cenário. O de que o PMDB seria mais necessário para uma vitória de Dilma do que parece ser. Neste caso, caberia ao partido a escolha do vice e o nome mais cogitado vinha sendo o do deputado Michel Temer. "Depois do Datafolha, o quadro mudou", disse à DINHEIRO Jorge Picciani, presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e líder do PMDB no Estado, onde o partido tem um de seus diretórios mais atuantes. "O risco é perder a vaga de vice para outra legenda." Como o Datafolha mostrou ainda o enfraquecimento de Ciro Gomes, do PSB, Dilma poderá vir a escolher o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, também do PSB, para compor sua chapa, caso o PMDB insista com Temer. Mas o próprio Lula já deixou claro que tem preferência por Meirelles, quando sugeriu que o PMDB indicasse ao PT uma "lista tríplice" de nomes. Outro sinal importante foi a inclusão do nome de Temer na lista de parlamentares que teriam recebido vantagens da empreiteira Camargo Corrêa, na Operação Castelo de Areia, da Polícia Federal.
O fato é que o rio de Dilma corre na direção de Meirelles - e os dois têm até se encontrado em eventos políticos, como a inauguração de uma barragem em Goiás, há duas semanas. Um eventual casamento da dupla teria grande significado. Segundo o economista e banqueiro Paulo Guedes, sócio da BR Investimentos, seria uma âncora econômica. "Meirelles é um ativo importante para qualquer governo", reforça Paulo Leme, economista da Goldman Sachs.
Na visão de investidores, o presidente do BC é o grande eleitor da ministra da Casa Civil, uma vez que o crescimento da economia decorre da estabilidade monetária. Foi a inflação dentro da meta que alargou os horizontes do crédito e o mercado de consumo interno.
Foto: Murillo Constantino / Ag.Istoé e André Dusek
Além disso, há, entre os investidores, certo temor de que José Serra possa vir a ser até mais intervencionista do que a ministra Dilma, especialmente no que diz respeito à política cambial. Dilma já veio a público para dizer que manteria o tripé básico da política econômica - Serra, ainda não. "O risco de surpresa hoje vem do PSDB, e não do PT", diz Roberto Padovani, do banco West LB.
O impacto da escolha do presidente do BC como vice iria além da economia.
E isso se deve à própria característica do cargo. Em primeiro lugar, um vice não pode ser demitido. Em segundo, tem espaço garantido na mídia. O que significa que o vice não é só o ocupante do Palácio do Jaburu, em Brasília. É também uma alternativa de poder. E se vier a ser Meirelles, respeitado pela elite empresarial do Brasil e do mundo, será um reserva de luxo. "Isso significa que a ministra Dilma, uma vez eleita, não irá criar tensões no campo político", aposta o deputado Picciani. Basta notar, como exemplo negativo, o que ocorre na Argentina - lá, a presidente Cristina Kirchner está em guerra contra o vice Julio Cobos, a quem acusa de conspirar.
Com Meirelles, o PMDB pretende entrar na aliança governista de outra forma. Menos fisiológica, e mais programática - ao menos, no discurso. O partido finaliza um programa de governo que vem sendo elaborado por Meirelles, mas também pelo economista Delfim Netto, pelo ministro Nelson Jobim e pelo filósofo Roberto Mangabeira Unger. Além da continuidade econômica, o PMDB pretende enfatizar dois pontos: a expansão da oferta de energia e a modernização da infraestrutura. Da questão energética, ocupa- se Delfim. De estradas, portos e aeroportos, Jobim. Sua intenção é avançar no processo de concessões, para que investidores privados ajudem a preparar o País para a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada de 2016. O PMDB também deverá marcar posição em temas como a defesa da liberdade de expressão e o respeito à propriedade da terra, numa forma de se contrapor aos aspectos mais radicais do programa do PT. Assim, pretende- se que Meirelles seja um ponto de equilíbrio, não só na economia como também na política.
Com Denize Bacoccina e Guilherme Queiroz
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