FOLHA DE S PAULO
RIO DE JANEIRO - Morreu Robert McNamara, aos 93. Foi o mais poderoso secretário de defesa americano no século 20. Veio da iniciativa privada e, no princípio, hesitou. Kennedy o tranquilizou: não existem cursos nem para presidente.
McNamara achava que era possível simplificar situações complicadas, por meio do estudo de todas as sua dimensões. Acreditava nas estatísticas. Tentou usá-las para aumentar a produtividade de campanhas de bombardeio aéreo. Uma vez, quando voltava do Vietnã, declarou: temos inúmeras evidências estatísticas de que estamos vencendo a guerra.
Quando percebeu a derrota, a inutilidade de tantas mortes, o governo o designou para o Banco Mundial, onde ficou anos. Na sua gestão, o banco realizou milhares de projetos contra a pobreza.
Provocou grandes problemas ambientais. Ao deixar o trabalho, a pobreza atingia 800 milhões de pessoas, 200 milhões a mais do que no inicio da gestão.
De suas afirmações, destaco a conclusão de que a guerra aciona processos impossíveis de serem controlados pelo raciocínio. Para quem começou a carreira supondo que era possível tudo controlar, não era apenas uma referência ao Vietnã, mas às guerras em geral.
Tudo indica que os norte-americanos tendem a aprender as lições do século 20, apesar da relutância de Bush. Nesse quadro, a experiência de McNamara é indispensável. Não só pela dificuldade de dominar os mistérios da guerra mas também por esbarrar na resiliência da pobreza, diante dos programas externos.
Esse encontro com os limites da racionalidade, para alguns, acontece no curso de um grande amor. McNamara precisou de muitas mortes e destruição. Teve coragem de enfrentar as consequências e mudar, amplamente, o curso de sua trajetória política. Além de documentários, merecia um filme.