WASHINGTON - Banqueiros e governos falam de "injeção de recursos" e "compra de ações" de instituições financeiras encrencadas. Evita-se sempre a expressão "estatização". É um tabu como era no passado falar em público a respeito de alguém com câncer. Românticos de Cuba reclamam dessa novilíngua do poder -apenas com razão parcial, pois é necessário ponderar as nuanças do atual cenário.
Do ponto de vista lingüístico, o termo "estatização" está correto. Se um banco privado passa a ser controlado pelo governo, torna-se uma entidade estatal.
Mas há também a carga ideológica dentro da expressão. Quando nos países socialistas houve estatização, tratava-se de medida para a vida toda. Pelo menos essa era a intenção de soviéticos e seus satélites durante décadas no século passado. Ou seja, ao dizer simplesmente "EUA estatizam bancos" conta-se só metade da história.
Engana-se quem imagina a Casa Branca tomada por neobolcheviques, capitulando aos ensinamentos de Marx. Na realidade, não há o menor sinal de uma política para aumentar a presença do Estado na economia de maneira perene. Nenhum integrante da equipe econômica norte-americana defende a estatização eterna das instituições bancárias agora socorridas.
A idéia do pacotão de George W. Bush é tentar salvar o capitalismo. Se for necessário torrar dinheiro público, cumpra-se. Passada a turbulência, o movimento será de vender de volta todos os bancos para a iniciativa privada.
É possível, por óbvio, discutir se essa é uma boa saída. Há argumentos para todos os gostos. Inimigos do capitalismo vaticinam um fracasso inexorável. Prevêem o sistema financeiro nas mãos do Estado para sempre. Apostar nesse desfecho embute um risco tão alto como comprar derivativos lastreados no mercado imobiliário dos EUA.
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