Fica para depois - CELSO MING
Política

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O Estado de S.Paulo - 07/09


O Banco Central deu a entender ontem que já não conta com a convergência da inflação para o centro da meta de 4,5% ao ano em 2012. Essa foi uma importante mudança em relação ao que previa ainda em julho.

Mais surpreendentemente ainda, a análise da Ata do Copom mostra que o Banco Central, presidido por Alexandre Tombini (foto), não garante a inflação no centro da meta nem em 2013 nem no primeiro semestre de 2014. Mas não dá sinais de que, em algum momento, passará a ajustar para cima os juros, a fim de obter a convergência.

Reforça-se, assim, a percepção de que o Banco Central não está lá muito preocupado em quebrar a força da inflação, ao contrário do que acontecia até recentemente. Seu objetivo imediato é consolidar os ganhos estruturais na economia, obtidos com a queda dos juros. Portanto, o cumprimento da meta de juros (não reconhecido formalmente pelo Banco Central) segue sendo mais importante do que o controle rigoroso da inflação. A meta de inflação continua de pé, mas acabará sendo cumprida mais à frente, "de forma não linear".

Isto posto, os juros se manterão em queda, embora esse movimento deva agora ser conduzido "com máxima parcimônia", ou seja, em doses reduzidas, não mais com cortes de 0,50 ponto porcentual ao ano por vez, mas, sim, de 0,25 ponto porcentual.

A mudança de posição do Banco Central parece ter sido determinada pelo novo choque dos alimentos provocado pela forte seca no Centro-Oeste dos Estados Unidos, que puxou para cima os preços dos grãos (milho, trigo e soja), e, também, pela persistência de algumas pressões inflacionárias de origem interna, como a escalada dos serviços e o aquecimento do mercado de trabalho - que eleva o risco de "concessão de aumentos de salários incompatíveis com o crescimento da produtividade". O Copom entende que o repique da inflação é temporário, mas sugere que pode não ser revertido tão cedo. A aposta é que essa inflação mais solta do que o previsto seja espécie de derrapada controlada. Não provocará estragos demais no nível de confiança na economia nem na disposição de investir por parte do empresário.

Desde agosto de 2011, o Banco Central vem desistindo de entregar a inflação na meta. Primeiramente, deixou tudo para este ano. Agora, vai ficando claro que não dá para emplacá-la também em 2012. Pelas explicações, o que deu errado foi a adversidade climática, acontecida há mais de 7 mil quilômetros de Brasília e, portanto, fora do controle do administrador da política monetária. Mas esta é apenas uma fração da verdade. E a verdade mais abrangente está no fato de que o Banco Central decidiu trabalhar apertado, sem margens de ajuste em que coubesse o imponderável. Nessas condições, qualquer adversidade, como a seca nos Estados Unidos, acaba empurrando a inflação para fora da trajetória previamente traçada.

Economistas competentes preveem que, ainda em 2013, o Banco Central terá de reapertar os juros. Talvez isso somente se dará caso a inflação ameace saltar para acima da margem de tolerância, para além de 2,o pontos porcentuais acima do centro da meta de 4,5%.

Se isso acontecer, os juros reais (descontada a inflação) internamente ficarão excessivamente próximos de zero, nível em que começará a deterioração do caixa das empresas e do patrimônio financeiro das pessoas físicas.



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