Num dos posts abaixo, falei sobre Franklin Martins. Quase me esqueço de lhes rescomendar uma reportagem.
O Jornal da Globo fez um golaço ontem ao lembrar que o 7 de Setembro de 2009 marca também os 40 anos da libertação do embaixador americano Charles Burke Elbrick, seqüestrado por militantes do MR-8 em 1969. O jornal entrevistou o taxista José Matheus de Souza, que levou Elbrick para casa depois que foi libertado (vídeo aqui).
“Ele estava com paletó, sem gravata, com a mala 007. Ao entrar ele pediu: ‘por favor me leve para a rua São Clemente em Botafogo’. Com sotaque de estrangeiro. ‘O senhor é o embaixador norte americano que foi seqüestrado?’. Ele disse: ’sim’ e eu falei: ’sinto muito ter acontecido este fato com o senhor’. Ele agradeceu minhas palavras e seguimos por esta rua onde eu estou agora”.
Pois bem, caros leitores. Sabem o que aconteceu? José Matheus foi contratado como motorista da embaixada americana, onde trabalhou por longos 39 anos, até se aposentar, em 2008: “Foram 39 anos com muita alegria, muito amor, respeito do povo americano e por todo o povo brasileiro”. O motorista batizou o filho com o nome do embaixador:“Tenho muito orgulho de ter esta história por trás do meu nome e tenho orgulho do meu pai herói“, diz o filho, Charles Souza.
A reportagem ouviu também Fernando Gabeira (PV-RJ), que, participou daquela ação. Como sabem, tenho muitas divergências com o deputado, mas respeito sua atuação política pós-exílio. Sua fala é inequívoca: “Hoje, como forma de luta eu sou contra, eu acho uma forma de luta condenável. Na verdade, ao longo desses anos a minha posição foi mudando tão amplamente que eu hoje me identifico com os reféns. Nós vivemos num país, com uma democracia que procura, cada vez mais, se aperfeiçoar”.
Ah, mas há alguém que não se arrepende de nada, não! Justamente um dos líderes da operação, que redigiu a carta exigindo a libertação de alguns presos políticos: Franklin! Como eu sei que ele não se arrepende? Porque ele mesmo já disse, ora essa: “Não me arrependo de ter pegado em armas ou de ter contribuído, seja na clandestinidade, seja no exílio, para o fim daquele regime odioso.”
Ainda bem que um taxista serviu para demonstrar que nem todo brasileiro é como Franklin, não é? A lógica do gigante é fantástica: já que aquele regime era odioso, o que custa seqüestrar pessoas para combatê-lo? É uma forma de ver o mundo. E se o regime militar não tivesse libertado os presos em troca do embaixador? Ora, queridos, um “regime odioso” justifica qualquer coisa, não é mesmo? Isso é porque Franklin fazia justiça arbitrando sobre a vida de um. Decidindo sobre a vida de milhões, Stálin descobriu que esse negócio de matar é um evento puramente estatístico. Até outro dia, o ministro da Verdade mantinha uma página na Internet com um link para a sua carta. Maior orgulho!
Considerando o trabalho de “comunicação” que faz o Planalto, vê-se que Franklin mudou de método, mas não de convicção.