Decisão ocorre um dia após Lula determinar veto à mudança, que era pedida pelo PMDB, o ministro Lobão e a estatal
Após ordem do presidente Lula, a mudança no comando da Fundação Real Grandeza, fundo de pensão de Furnas, foi retirada da pauta da reunião do Conselho Deliberativo da estatal. A troca era defendida por Furnas e pelo ministro Edison Lobão, que falou em bandidagem na fundação. Em clima tenso, o presidente do Conselho, que pedira a mudança, elogiou a diretoria da Fundação. Mas a direção de Furnas vai rediscutir o caso, e não há garantia de que a troca tenha sido definitivamente engavetada. Funcionários de Furnas protestaram contra a mudança, atribuída a pressões do PMDB. Defendida com ênfase pela direção de Furnas e pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), a proposta de troca no comando da Fundação Real Grandeza, fundo de pensão da estatal, foi retirada de pauta ontem pelo conselho deliberativo da estatal. Um dia depois de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mandar cancelar a reunião, convocada na última sexta-feira, o mérito da proposição sequer entrou em discussão: uma questão regimental levou os conselheiros a votar pela retirada do tema de pauta. Como fora rejeitada em 2007, a proposta precisaria de quatro assinaturas para voltar ao plenário do conselho - segundo determina o artigo 9 º do estatuto do fundo. Tinha apenas uma.
A fragilidade das justificativas para a proposta de mudança ficou clara diante da reação do próprio autor, o presidente do conselho, Victor Albano: depois da reunião, em entrevista, ele discordou de pelo menos dois pontos-chaves da carta distribuída por Furnas anteontem, que criticava a atual gestão da fundação para explicar a proposta de troca. Albano elogiou a atual gestão do fundo pelo "bom resultado" das contas, depois de uma "situação de descrédito".
Conselheiro que fez proposta elogia direção
Diferentemente do que defendera Furnas, Albano afirmou que o estatuto que garante mandato de quatro anos foi aprovado com anuência do conselho e depois de negociação com a estatal. Furnas sustentava, em nota, que a atual presidência do fundo "autoprorrogou" seu mandato. Albano disse ainda que, ao contrário do que afirma a nota da estatal, não chegou ao conselho queixa alguma das patrocinadoras a respeito da falta de informações sobre as aplicações financeiras do fundo. Como dissera anteontem o presidente da fundação, Sérgio Wilson Ferraz, Albano lembrou que o balanço de 2008 do Real Grandeza, reivindicado por Furnas, só será concluído no dia 31 de março.
Perguntado sobre o motivo de defender a troca, mesmo elogiando a gestão do fundo, Albano foi lacônico:
- A pergunta tem que ser feita à patrocinadora.
Aos funcionários, Furnas distribuiu ontem nota justificando o pedido de alteração da direção do fundo, com os mesmos argumentos do informe que publicara nos jornais.
Outro conselheiro que aparece como proponente na proposta distribuída semana passada, Wilson Neves, confirmou ontem que a inclusão de seu nome no documento foi um erro.
- Ele (Victor Albano) fez uma proposta em meu nome sem me consultar - disse Wilson, que afirmou ter avisado Albano dos problemas regimentais na semana passada.
Albano, no entanto, afirmou que tomou ciência do problema apenas no carnaval, quando leu o estatuto com atenção.
Apesar de reconhecerem o peso político da orientação de Lula, os conselheiros foram unânimes em rechaçar qualquer tentativa de intervenção no fundo de pensão. De acordo com o regimento, a fundação é autônoma e não está sujeita a ordens de Furnas ou do governo federal.
- Se houver qualquer ilegalidade, não é o presidente Lula que responde com seu CPF. Sou eu - disse Albano.
- O presidente não manda no conselho - concordou Geovah Machado, representante dos aposentados no conselho, que desde a oficialização da proposta era contra a mudança.
Quinze representantes de sindicatos ligados ao setor elétrico se reuniram com o diretor de Gestão Corporativa de Furnas, Luiz Fernando Paroli Santos, para tratar dos riscos de mais uma tentativa de mudança no comando da Fundação Real Grandeza. De acordo com os sindicalistas, não foi dada qualquer garantia de que novas tentativas de troca serão evitadas. O assunto será tratado pela diretoria da estatal num encontro na próxima terça-feira. Para o dia seguinte, está marcada reunião de Furnas com os sindicatos, que esperam uma garantia de blindagem contra ingerências políticas pelo menos até outubro, quando acaba a gestão do atual presidente, Sérgio Wilson.
- Eles conhecem o regimento e tentaram essa mudança dessa forma. Por isso creio que tentarão de novo - argumenta Átila de Castro, suplente, que votou no lugar do conselheiro Francisco Schemberg.
Na votação da tarde, os dois conselheiros que representavam Furnas divergiram: enquanto Albano votou para que não houvesse reunião, Luiz Roberto Bezerra, que acabou de entrar no conselho, votou pela realização do encontro. |