O GLOBO - 20/09
As empresas cujas concessões para exploração de hidrelétricas terminam em 2015, se quiserem renová-las, terão de obrigatoriamente reduzir suas tarifas. A decisão foi tomada pelo governo federal, e certamente contribuirá para uma redução dos custos gerais de produção na economia, além de aliviar os orçamentos dos consumidores residenciais.
Mas, para as empresas concessionárias, essa redução de tarifas deverá ter impacto significativo em suas receitas, embora se possa alegar que as hidrelétricas antigas estejam em boa parte amortizadas, proporcionando alto retorno para quem as opera. O mercado de capitais reagiu negativamente à possibilidade de queda de lucratividade dessas concessionárias. As ações se desvalorizaram e ainda não se recuperaram. É como se o mercado aguardasse uma resposta das concessionárias ao desafio de manter a rentabilidade num contexto de tarifas mais reduzidas.
Companhias estaduais e principalmente o grupo Eletrobras, uma estatal federal, serão, simultaneamente, os mais beneficiados pela renovação das concessões e os mais afetados pela redução de tarifas. O presidente da Eletrobras, José da Costa Carvalho Neto, tem afirmado que o grupo precisa se adequar a esse novo padrão, reduzindo também os próprios custos operacionais. E o exemplo partirá da subsidiária de Furnas, talvez a mais importante do setor, por sua elevada capacidade de geração de energia elétrica e expressiva participação no sistema de transmissão de energia.
Furnas vai pôr em prática um programa de demissão voluntária para enxugar a estrutura gerencial, que foi sendo inflada ao longo dos canos como uma forma de promoção de empregados, em muitos casos sem que houvesse real necessidade da função - não fosse uma estatal. Interferências políticas acabaram também contribuindo para esse inchaço. O presidente de Furnas, Flávio Decat, chegou a comparar a estrutura da empresa a uma árvore de Natal, com cerca de 450 gerentes.
É obvio que uma estrutura inflada como esta tende a ser mais uma multiplicadora de custos do que de eficiência. Furnas se propõe a mudar esse quadro nos próximos quatro anos. Dos atuais 6.400 empregados, a companhia espera ficar com 4.200, um corte de 35%. Junto com o programa de demissão voluntária haverá uma negociação envolvendo os terceirizados que trabalham há muitos anos para Furnas, mesmo se tratando de uma empresa com estrutura reconhecidamente inflada.
Ao equiparar os custos da companhia à média do setor, Furnas poderá acumular internamente mais recursos para investir, dependendo menos da sua holding, a Eletrobras. Uma empresa que pode enxugar sua estrutura, com uma redução de mais de um terço dos empregados, é visivelmente uma companhia com muita gordura. Sem risco de erro, o caso Furnas pode ser extrapolado para todas as estatais.