Galeão e Confins podem ser vítimas do corporativismo Editorial O Globo
Política

Galeão e Confins podem ser vítimas do corporativismo Editorial O Globo


O Globo - 24/08/2012
 

Se há um modelo que não faz sentido algum o país continuar insistindo é o da administração aeroportuária concentrada nas mãos de uma empresa 100% estatal, como é a Infraero, sinônimo de incompetência. Os aeroportos de Guarulhos, Campinas e Brasília já estão livres dessa amarra e terão agora a oportunidade de dar o salto de qualidade tão ansiosamente aguardado por todos que utilizavam seus serviços.
Espera-se que outros aeroportos, como o do Galeão, no Rio, e o de Confins, na Grande Belo Horizonte, também venham a ser contemplados pelo modelo de concessão que transfere a gestão para consórcios de investidores e empresas com experiência nesse tipo de administração. No entanto, conforme O GLOBO revelou em sua edição de ontem, existe o risco de isso não acontecer, pois o governo, por pressão da Infraero, estaria inclinado a aceitar um outro modelo, de parceria público-privada, pelo qual a companhia estatal permaneceria à frente da administração desses importantes aeroportos.
A justificativa é que a Infraero precisaria dos lucros obtidos no Galeão e em Confins para subvencionar outros aeroportos de menor porte, hoje deficitários. Se for feita essa opção, Galeão e Confins continuarão sacrificados, com investimentos aquém dos necessários para que atinjam o grau de qualidade de serviços que provavelmente será alcançado pelos aeroportos congêneres já sob concessão.
A escassez de recursos públicos não pode ser resolvida por essa fórmula. Se o governo deseja que o custeio e os investimentos de todo o sistema aeroportuário sejam assegurados pelas receitas geradas nele mesmo, o modelo baseado na gestão única da Infraero se mostrou fracassado. Perdeu-se um tempo enorme e precioso com a insistência nesse modelo, e será um absurdo se houver agora um recuo em relação aos passos que foram dados nas concessões dos três grandes aeroportos citados. E isso apenas para atender a um corporativismo que só procura preservar seus interesses, em detrimento dos usuários, e se valendo do atávico preconceito ideológico contra a iniciativa privada existente em áreas do governo.
O movimento dos aeroportos tende a continuar crescendo velozmente, seja pela melhora de renda dos brasileiros ou pela atração de visitantes estrangeiros, no esteio dos grandes eventos internacionais que serão realizados no país nos próximos anos. Para vencer tal desafio não se pode insistir com um modelo estatal que comprovadamente não funciona.
Vale frisar que a Infraero mantém uma participação de 49% nas concessões que foram autorizadas. E nessa condição de sócia continuará opinando e participando das diretrizes da administração dos aeroportos. O que a estatal está deixando de ser é a executora da gestão, perdendo a responsabilidade integral pelos investimentos. Não significa que está está deixando o filé mignon para ficar com o contrapeso.



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