PRESIDENTE DA EMPRESA DIZ AGIR “EM DEFESA” DA ESTATAL E NEGA ENTRAR NA DISPUTA POLÍTICA; PSDB TERIA “INIBIDO INVESTIMENTO”
FABIA PRATES EPLÍNIO FRAGA - FOLHA SP.
DO RIO
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, diz à Folha que o modelo de gestão da empresa no governo tucano (1995-2002) reduzia a exploração petrolífera, desmembrava a área de refino, inibia investimentos e deixava o custo para a empresa e o lucro para o setor privado.
“A continuidade daquela política levaria à privatização, ao desmembramento e a um enfraquecimento da Petrobras”, afirmou.
Economista e petista, Gabrielli, 59, nega estar atuando em favor da agenda proposta pela candidata Dilma Rousseff, levando o peso da maior empresa brasileira para a disputa eleitoral.
“Estou defendendo a Petrobras”, diz. “Quero discutir o mérito. O que se quer fazer da Petrobras? O que fazer com o pré-sal?”
Apesar de o tucano José Serra ter negado que pretenda privatizar a empresa e ter declarado que se compromete a fortalecê-la, o presidente da Petrobras diz duvidar.
Com salário de R$ 60 mil por mês, Gabrielli evita comentar se pretende permanecer na presidência da empresa numa eventual vitória de Dilma e nega ter chorado ao ser repreendido por ela, conforme adversários da petista afirmam.
Folha – Que elemento concreto o sr. tem para afirmar que o governo FHC tentou desmontar e vender a Petrobras? Isso não é uma politização e partidarização da empresa?
José Sergio Gabrielli – Não acredito que seja partidarização. Respondi a uma acusação feita pelo [David] Zylbersztajn sobre a Petrobras e sobre o regime futuro [da exploração de petróleo]. Tentei mostrar que o modelo de gestão da Petrobras no período do governo FHC levaria ao desmembramento, ao risco de inanição e à possível privatização da Petrobras.
A área exploratória da Petrobras era declinante. Se você continua declinando área exploratória, morre por inanição. Na segunda atividade mais importante, o refino, o que estava sendo feito era uma gestão de desmembramento, que permitiria a venda parcial das refinarias. Na geração elétrica, os contratos firmados claramente levavam a uma repartição. Todo o custo ficava com a Petrobras, e todo o lucro, com o setor privado.
A estrutura organizacional, fazendo com que se reproduzisse todo o sistema corporativo dentro de unidades de negócio estanques, exacerbadamente, era preparação clara para uma eventual privatização.
Uma pergunta que pode parecer esdrúxula: o sr. é a favor da legalização do aborto?
Não vou responder. Não entrarei nessa discussão.
O governo parece usar a questão da privatização do mesmo modo que setores conservadores colocaram o tema do aborto no debate eleitoral.
Não estou usando a questão da privatização. Sou presidente de uma empresa que está sendo atacada. Estou defendendo a empresa. Estou propondo a discussão do mérito. Quero saber qual o futuro da Petrobras. O que se quer fazer dela? O que fazer com o pré-sal?
Uma eventual vitória de Serra traria risco de privatização?
Se a política for a mesma [de FHC], sim. Vai levar ao desmembramento da Petrobras e, portanto, ao enfraquecimento da capacidade dela de fazer o grande investimento que ela tem.
Que diferença houve no Conselho de Administração da Petrobras com a substituição de Dilma pelo ministro Guido Mantega (Fazenda)?
Há uma continuidade de política. Não há diferença fundamental. Há diferença de estilo de pessoas.
Na questão de estilo, os adversários da Dilma dizem que o sr. chegou a chorar após ser repreendido por ela.
Isso é uma piada que foi colocada, ridícula. Nunca existiu isso.
Há relatos de cobranças duras que ela fez, e não só ao sr..
Ela é uma gestora que tem uma orientação muito clara para performance e resultado. Ela é muito executiva nesse sentido. Como todo executivo, cobra. E é normal que aconteça isso.
O sr. comanda uma empresa com milhares de acionistas e tem de responder a um governo com projeto político. Não há interesses contraditórios?
Acabamos de fazer uma capitalização na qual tivemos milhares de acionistas novos e bilhões de dólares adquiridos por acionistas fora do governo. Quer maior prova da aceitação da Petrobras?
E as críticas de que não foi um processo transparente?
Não houve nenhuma ação judicial. Nenhuma. Foi um sucesso em termos de demanda. Imediatamente depois, as ações se mantiveram estáveis. A variação que ocorreu na semana passada tem muito mais a ver com ajustes do portifólio de investidores em razão do aumento no IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
Houve ajuste de investidores da Petrobras que queriam comprar títulos públicos, que venderam ações para transformar isso em reais, sem precisar pagar os 2%.
Na exploração do pré-sal, por que o sr. prefere o modelo de partilha [divisão do óleo extraído entre União e empresas vencedoras de leilões, com a Petrobras operando todos os blocos e com participação mínima de 30% nos consórcios] ao de concessão [licitação feita pelo governo pelo direito de exploração]?
Temos na Bacia de Santos, a área mais nova e a mais desconhecida, mais de 20 poços perfurados com sucesso. Temos sísmica de alta qualidade, conhecimento geológico de alta qualidade e produção contínua, desde maio de 2009. Vamos iniciar produção comercial agora no final de outubro, início de novembro. Portanto, o risco exploratório na área do pré-sal é mínimo. Em áreas de risco exploratório baixo, fazer a concessão é dar ao setor privado, às empresas que investirem, a maior rentabilidade.
A obrigatoriedade de a Petrobras ter no mínimo 30% dos blocos na definição do modelo de exploração do pré-sal, sejam rentáveis ou não, não a expõe a riscos?
Se fosse limitada a alguns projetos, poderia ter esse risco. Mas, como é para todos, é muito improvável que todos sejam ruins. O fato de você estar presente em todos, minimiza muito esse risco.
Extraído do blog do Luis Favre