Guerra sangrenta entre quadrilhas de traficantes
Política

Guerra sangrenta entre quadrilhas de traficantes


O triângulo do pó

Aumentar o efetivo policial na fronteira com a Colômbia
e o Peru seria recomendável. Mas o governo brasileiro
o diminuiu. A região está em pé de guerra


Leonardo Coutinho, de Tabatinga

Manoel Marques 

Terra sem lei
Na semana passada, policiais federais brasileiros foram atacados ao passar em frente da casa do traficante peruano Jair Michhue

O Trapézio Amazônico, nome da tríplice fronteira entre Brasil, Colômbia e Peru, deveria ser considerado estratégico pelo governo. A região é a porta de entrada de cerca de 70% da cocaína traficada no país. Apesar disso, é tratada com desleixo pelas autoridades. Em Tabatinga, no Amazonas, 34 policiais federais carimbam passaportes e fazem revistas no aeroporto e no porto locais. A repressão às drogas foi relegada a nove agentes federais. Em Letícia, do lado colombiano da divisa, a mesma tarefa envolve 390 policiais. Por esse motivo, o tráfico prefere cometer crimes deste lado da fronteira. Agora a situação se agravou. Uma quadrilha peruana passou a disputar com os colombianos o controle do comércio de cocaína para o Brasil. No mês passado, o conflito entre os criminosos ganhou contornos semelhantes aos de uma guerra. O líder da bandidagem colombiana, Isauro Porras, foi assassinado pelo peruano Jair Michhue, seu antigo sócio. Doze pessoas já morreram na refrega, metade delas na banda brasileira. O assassinato mais recente ocorreu na quinta-feira passada.

Há um mês, foi inaugurada no Rio Içá uma base da PF para a fiscalização de barcos, principal meio de transporte usado pelos traficantes. No dia seguinte, ela foi fechada por falta de pessoal. Desde julho, foram desativados quatro postos por ausência de agentes – dois deles na semana passada. Restaram dois postos nos 1 644 quilômetros limítrofes com a Colômbia. Cada um conta com apenas um agente. Resultado: os traficantes fazem o que querem e ninguém os incomoda. Poucos dias atrás, uma lancha da Polícia Federal se aproximou da casa de Jair Michhue na margem peruana do Rio Solimões. Os capangas do traficante atiraram na direção do barco para afastá-lo.

Não dá para trocar tiros com facínoras no outro lado da fronteira sem criar um incidente internacional. Mas está claro que a ousadia do bando do traficante peruano se origina na atual fragilidade da Polícia Federal. Ela se reflete nas estatísticas. De 2000 até o ano passado, a PF apreendeu uma média de 2 toneladas de cocaína por ano. A ONU e o Congresso americano chegaram até a aplaudir tamanha eficiência. Neste ano, porém, não foram confiscados sequer 400 quilos de entorpecente. O que não foi retido pela polícia abasteceu, além do mercado brasileiro, o europeu. Como a cocaína em questão não permanece em seu território e o conflito entre traficantes ocorre com mais intensidade no Brasil, as autoridades peruanas e colombianas lavam as mãos para o problema. "Esta guerra de traficantes é um problema muito mais brasileiro do que nosso", diz o coronel Nelson Aceros Rangel, da Guarda Nacional da Colômbia. Muy amigo.

 

 
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