Política
Imperialismo à brasileira
Avanço do Brasil assusta vizinhos da América do Sul
Gabriel Bonis - Carta CapitalNas últimas semanas, empreendimentos bilionários de empresas brasileiras em países da América do Sul, que incluem a construção de uma hidrelétrica no Peru
e a exploração de potássio na Argentina, foram suspensos ou enviados a consulta popular. Os desentendimentos, envolvendo a Vale e a Eletrobrás, entre outras empresas, teriam como motivação principal o fato de que os investimentos beneficiariam
mais ao Brasil do que os locais onde seriam instalados.
A expansão cada vez maior de empresas brasileiras (privadas ou estatais), muitas vezes financiadas pelo
Banco Nacional do Desenvolvimento (BNDES), para outros territórios começa a despertar, em alguns países do continente, uma espécie de sentimento anti-imperialismo brasileiro.
“Tenho escutado de parlamentares sulamericanos, de esquerda e direita, que o Brasil adota essa postura, mas também ouço de outros que isso não procede”, diz o deputado federal Dr. Rosinha (PT-PR), integrante da Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional.
O oferecimento de contrapartidas nas negociações, como transferência de tecnologia, garantias de geração de empregos e a escolha de investimentos que interessem à população local, poderia evitar desconfortos na América Latina, segundo o deputado federal Ivan Valente (PSOL-SP), membro da mesma comissão. “As empresas brasileiras devem ter sensibilidade
política, econômica e social e não visar apenas o lucro”, aponta.
A atuação supostamente agressiva de algumas dessas companhias em outros países da região é apontada como uma das principais causas de atritos. “Esse comportamento visando somente o lucro gera problemas sociais”, afirma Rosinha. No entanto, os esforços do governo brasileiro para a integração do continente, como as ações no Mercosul e na União de Nações Sul-Americanas (Unasul) – organização formada pelos 12 países da América do Sul visando melhores políticas sociais, educação e avanços na infraestrutura -, são elogiados, segundo o deputado.
Porém o projeto Integração da Infraestrutura Regional Sul-Americana (IIRSA), que pretende melhorar as condições estruturais do países construindo gasodutos, oleodutos, hidroeléticas e estradas conectando a região, é acusado por Valente de seguir os interesses das grandes empresas. “Muitos empreendimentos estão atropelando interesses de comunidades locais”.
Liderança Com a sétima economia do mundo e o maior território da América do Sul, o Brasil desponta como o líder do continente e, apesar das desconfianças de alguns vizinhos, é tido pelos países da região como uma possível voz em defesa dos interesses locais. “Na semana passada estive no Uruguai e o presidente José Mujica me disse que o Brasil tem que liderar o desenvolvimento da América do Sul”, conta Rosinha.
A região, que precisa de investimentos, ainda não possui uma agência de fomento exclusiva. Rosinha defende que o BNDES deveria se internacionalizar e assumir esse papel, capitalizando empresas locais. Uma alternativa que Valente contesta, por, segundo ele, ser onerosa demais para o Brasil, pois o banco é capitalizado por títulos do tesouro nacional com juros de quase 13% estabelecidos pela Selic.
“Quem está pagando a conta é o povo brasileiro com a enorme dívida pública e gasto estratosférico dos juros, que vai atingir 653 bilhões de dólares em 2011, segundo previsões do governo”.
A criação de um banco para a América do Sul também é uma opção, embora o Brasil encare essa proposta com maior distância, por ter interesse em expandir instituições financeiras fortes, como o Banco do Brasil e a Caixa.
Para o deputado do PSOL, uma integração eficiente entre os países da região deveria adotar uma lógica solidária. “O Mercosul se mantém estacionário, porque só defende o interesse das empresas, enquanto deveria discutir também direitos sociais e trabalhistas equânimes entre os Estados”, diz. “O Brasil deve intervir mais equilibradamente para garantir que as empresas nacionais que investem em outros países realizem um regime de colaboração comprometido com o desenvolvimento do local onde se instalarem”.
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