Política
Indecisões finais LUIZ GARCIA
Pois é, a campanha municipal está na última semana, como o tempo voou, não? E as pesquisas continuam a registrar um índice pequeno, e mesmo assim curioso, de cariocas indecisos.
O que falta para esse pessoal saber o que quer na vida? Os dois candidatos já se definiram sobre todos os assuntos imagináveis — alguns deles pouco ou nada municipais.
Também é notável o número de posições que parecem idênticas (e na verdade não são, mas isso só descobre quem é bom de faro).
Talvez por aí se explique a sobrevivência dos indecisos.
Por exemplo, Gabeira e Paes condenam com igual ênfase o sistema apelidado de “promoção automática” na rede de ensino básico. Parece que os dois têm razão, já que essa velha novidade, realmente, não emplacou.
Mas seria animador se Fernando e Eduardo — estamos, a esta altura, íntimos da dupla, não é mesmo? — tivessem também o cuidado de definir a tal promoção como o que ela realmente pretendia ser.
Foi idéia de Paulo Freire, que sempre mereceu ser levado a sério. Ele propôs um sistema que daria atenção especial ao aluno repetente ao longo do curso básico; certamente nada havia de “automático” na idéia.
Na versão que acabou adotada, a idéia obviamente não deu certo. Parece correto condenar o erro, mas seria animador se os candidatos também apresentassem propostas de novas soluções para um problema que permanece real e sério.
Enfim, como nenhum dos dois o fez, o tema não se presta a provocar uma definição do carioca indeciso.
Em relação a outros problemas de enunciado mais simples, Eduardo e Fernando têm propostas semelhantes, muitas delas aparentemente óbvias. Por aí dificilmente estará aberto um caminho capaz de transformar a agonia da indecisão na tranqüilidade do voto assumido.
De qualquer maneira, não vamos recomendar ou esperar que o pessoal decida na cara ou coroa. Porque Edu e Nando — aproximamonos de uma intimidade totalmente ilegítima — não são, na verdade, farinhas do mesmo saco.
Podemos pensar numa solução baseada em três pontos: biografia, laços políticos e, principalmente, jeitão. Nos dois primeiros, a relevância é óbvia. Dize-me com quem andas etc. Ou dize-me o que andaste fazendo etc.
Quanto ao jeitão, reconheço, é questão subjetiva que não acaba mais.
Mas a maneira de falar e gesticular, o momento do sorriso e a hora da irritação, entre vários outros itens, podem levar a conclusões interessantes.
Sobre estilo e também sobre caráter.
Afinal, é mais ou menos assim que a gente escolhe amigos. E quem não quer se sentir amigo do prefeito?
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