Depois de cinco anos seguidos de alta, a bolsa perde
871 bilhões de reais e amarga a pior queda desde 1972
Bendito Sverberi
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A euforia deu lugar à ressaca. A Bolsa de Valores de São Paulo, que em maio atingira o seu recorde histórico de valorização ao superar os 73.000 pontos, encerrou 2008 com uma queda de 42%, o seu segundo maior tombo. Foi a primeira retração da Bovespa desde 2002. No acumulado do ano, 871 bilhões de reais evaporaram do valor das ações da bolsa. Os papéis das duas maiores empresas do país, a Petrobras e a Vale, encerraram 2008 com um desempenho sofrível, depois de ter alcançando preços recordes. O patrimônio de quem tinha investido nessas ações, comprando diretamente ou por meio de fundos, encolheu pela metade (veja o quadro).
Na Bovespa, a mudança de humor do mercado pode ser exemplificada pelo desempenho das ações da OGX, empresa de exploração de petróleo criada por Eike Batista. No dia 13 de junho, a companhia protagonizou a maior oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) da história do país, ao arrecadar 6,7 bilhões de reais. Doze dias depois, numa alta vertiginosa embalada pelo aumento no preço do petróleo (as cotações do barril superaram 140 dólares), a OGX atingiu o seu maior valor de mercado: 44,8 bilhões de reais. Ao final de dezembro, com o barril do petróleo abaixo de 40 dólares, as ações da empresa valiam 64% a menos. Os estrangeiros, que respondem por cerca de 35% dos negócios da bolsa, venderam seus ativos, numa retirada equivalente a 25 bilhões de reais. Em 2007, houve 64 IPOs, que levantaram 56 bilhões de reais; em 2008, foram apenas quatro dessas operações, no valor total de pouco mais de 7 bilhões de reais. O diretor da corretora Modal Asset, Alexandre Póvoa, acredita que os mercados ainda podem piorar no primeiro trimestre de 2009. Segundo ele, o investidor de bolsa não pode se deixar levar pela crença de que agora todas as ações ficaram baratas e que valeria a pena, então, sair comprando para ganhar no curto prazo. "A economia vai se ajustar a um novo patamar menos exuberante. Ou seja, o espaço para a valorização imediata é pequeno. Deve começar a melhorar apenas a partir de março, mas ainda assim num outro ritmo."
Enquanto as ações tombavam, o dólar se transformou no melhor investimento de 2008. Com uma valorização de 32%, a moeda americana teve sua primeira alta desde 2002 (ano da crise eleitoral no Brasil), quando a divisa subiu 52%. A valorização ocorreu por um conjunto de fatores. Em primeiro lugar, houve uma redução no ingresso de dólares no país, tanto por meio das exportações como pela entrada de investimentos. Além disso, empresas multinacionais, com dificuldades de caixa, aceleraram o envio de lucros a suas matrizes, enxugando ainda mais dólares do país. Para completar, grandes companhias nacionais, como Sadia, Aracruz e Votorantim, se meteram em operações cambiais arriscadas. Estavam atoladas de aplicações que apostavam na queda do dólar e foram surpreendidas pela reversão dos mercados. Quando a moeda americana começou a subir rapidamente, elas se enrolaram: tiveram de ir em busca de verdinhas para honrar suas apostas. A velha lei da oferta e da procura fez com que o dólar deixasse de ser furado.