Na eleição israelense, na qual o partido que chegou
em segundo lugar pode eleger o primeiro-ministro,
a única certeza é a guinada à direita do eleitorado
Gabriela Carelli
Fotos Jack Guez - David Furst - Leon Neal/AFP |
QUEM VAI PARA O TRONO? O partido de Netanyahu (à esq.) perde para o de Livni em número de deputados, mas suas chances de formar uma coalizão para governar são maiores |
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O desenlace do emaranhado político só será conhecido dentro de algumas semanas, quando as coalizões entre os partidos forem finalmente anunciadas. Seja lá quem venha a ser o primeiro-ministro, são pequenas as chances de que ele contribua para uma solução negociada no conflito com os palestinos. Netanyahu, que foi primeiro-ministro nos anos 90, não quer saber de um estado palestino ao lado de Israel. Seu argumento é que os moderados da Autoridade Palestina, que controlam apenas a Cisjordânia, são fracos demais para ser confiáveis. É um argumento simplista para uma situação complexa, mas reflete uma realidade que ajuda a entender a guinada à direita. Na teoria, a maior parte da população israelense apoia a criação de um estado palestino. O problema é que ela já não acredita na possibilidade de isso acontecer. Perdeu-se a confiança na fórmula terra por paz, a velha bandeira do Partido Trabalhista, hoje reduzido a treze deputados.
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Há boas razões para a descrença e o pessimismo. Em 2000, Israel ofereceu aos palestinos o que lhe parecia ser uma enorme concessão (a volta às fronteiras de 67 com alguns ajustes e a divisão de Jerusalém) e Yasser Arafat não apenas recusou como iniciou uma nova intifada. Depois as tropas israelenses deixaram o sul do Líbano e a Faixa de Gaza – e, em ambos os casos, o resultado foram saraivadas de mísseis e ataques terroristas do Hezbollah e do Hamas. A leitura feita em Israel é a seguinte: a desocupação de territórios só leva a novas guerras. Seria possível argumentar que retiradas unilaterais, sem o aval de um acordo de paz, não dão bom resultado. Mas, no momento, a população israelense não está com cabeça para sutilezas diplomáticas. Ela está mais preocupada com o Irã, com o terrorismo palestino e, agora, com a crise econômica. Não é sem razão que o centro de gravidade da política israelense tenha mudado.
Não poderia haver ambiente melhor para a ascensão de um populista como Avigdor Lieberman. Um imigrante vindo da Moldávia em 1978, ele não se opõe à criação de um estado palestino. O que ele não quer são cidadãos árabes dentro do estado judeu. Sua proposta é a troca de áreas fronteiriças de Israel com grande população árabe por territórios ocupados por colonos judeus na Cisjordânia. Antes que isso possa ocorrer, ele quer condicionar a cidadania israelense a um juramento de lealdade ao estado. Isso é tremendamente explosivo num momento em que o tecido étnico de Israel parece prestes a se romper. Os árabes-israelenses, que representam 1 milhão dos 7 milhões de habitantes, identificam-se cada vez mais com os palestinos, e os judeus os veem como quinta-coluna. Se uma das propostas de Lieberman for levada adiante, representará a quebra de um princípio básico da democracia no estado judeu – o usufruto de direitos iguais por judeus e árabes, mesmo que esses últimos sejam dispensados de servir nas Forças Armadas.
"Nós, os israelenses, sempre dizíamos que éramos odiados por nossos inimigos e que a função de Israel era disseminar a democracia, não o ódio. Agora, Lieberman nos coloca no lugar deles", disse a VEJA o historiador israelense Tom Segev. Para complicar a possibilidade de paz, as coisas não estão melhores entre os palestinos. Eles olham com desânimo as mudanças políticas em Israel. Seja qual for o governo, o que veem é mais do mesmo: colônias na Cisjordânia, muros e negociações só da boca para fora. O racha entre o Fatah e o Hamas, que manda na Faixa de Gaza, está cada dia mais violento e reflete a rixa existente entre o bloco radical (Irã e Síria) e o campo pró-americano (Egito, Jordânia e Arábia Saudita). O único elemento novo, e com poder para romper o impasse entre Israel e os palestinos, chama-se Barack Obama. Até agora, infelizmente, o presidente americano não deixou claro quais são seus planos para o Oriente Médio – se é que os tem.