Após três semanas e mais de 1 000 mortos, a ofensiva
israelense contra o Hamas já atingiu seus objetivos militares
Fotos Khalil Hamra/AP e Muhammed Muheiser/AP |
SALDO FINAL Escombros de hotel bombardeado na cidade de Gaza. Ao lado, o líder do Fatah, Mahmoud Abbas: sem condições de substituir o Hamas na Faixa de Gaza |
A ofensiva militar israelense na Faixa de Gaza, iniciada no dia 27 de dezembro, tinha o objetivo explícito de parar a chuva de foguetes disparados pelo Hamas contra seu território. O objetivo velado era enfraquecer o Hamas, movimento islâmico que domina a Faixa de Gaza, fortalecer o Fatah, que controla a Cisjordânia, e assim desequilibrar a queda-de-braço disputada entre os dois partidos palestinos desde 2006. Israel está próximo de conseguir sua primeira meta. O Hamas sofreu fortes baixas, embora a maior parte de seus líderes ainda esteja aquartelada no subsolo do principal hospital do território. Já a tentativa de promover o Fatah foi por água abaixo. Seu líder, Mahmoud Abbas, não pode simplesmente desembarcar em Gaza a bordo de um blindado israelense. Se fizer isso, será visto por muitos palestinos como um traidor que se alinhou a Israel contra o próprio povo. No momento, as chances de o partido voltar a controlar a Faixa de Gaza são nulas.
O tempo para reverter a situação está se esgotando. A ofensiva israelense já deixou 1 100 mortos, 400 dos quais são mulheres e crianças. Na semana passada, projéteis israelenses atingiram um depósito de alimentos da ONU enquanto o secretário-geral da organização, Ban Ki-moon, visitava Israel. Um hospital e um edifício que abriga escritórios de agências de notícias também foram bombardeados. A continuação da ofensiva e as inevitáveis misérias causadas pelos combates podem provocar mais danos à imagem internacional de Israel do que vantagens no campo de batalha. O Hamas ofereceu um cessar-fogo de um ano. Caso aceitem a proposta, os israelenses poderão contar com forças internacionais para vigiar a porosa fronteira de Gaza, por onde entram as armas do Hamas. No longo prazo, no entanto, Israel continuará sob a ameaça de vizinhos truculentos. O Hamas, embora enfraquecido, deve continuar fiel ao projeto de destruir o estado judeu, e o presidente Mahmoud Abbas não tem autoridade para representar todos os palestinos. Até agora, a incontestável vitória militar não parece ter tornado a paz mais provável.
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