A derrota do extremismo
Moderados vencem o Hezbollah no Líbano
Hussein Malla/AP |
TRIUNFO NAS URNAS Comemorações em Beirute: vitória apertada da democracia |
As pesquisas de intenção de voto indicavam um cenário sombrio, mas as eleições parlamentares no Líbano, na semana passada, trouxeram um raio de esperança para o país. Simbolicamente, foi o triunfo dos moderados sobre os extremistas na nação que serve de termômetro para todo o Oriente Médio. Apesar das expectativas de que a aliança liderada pelo Hezbollah levaria a melhor, a vitória ficou nas mãos da coalizão 14 de Março, que reúne cristãos, muçulmanos sunitas e drusos. Liderada por Saad Hariri, filho do primeiro-ministro Rafik Hariri, assassinado em 2005, a coalizão que já governava o país conta com o apoio do Ocidente. As eleições foram limpas e a abstenção foi baixa, ao menos para os padrões libaneses: 55% dos eleitores foram às urnas, quase o dobro do registrado na última eleição, em 2005. Desde o fim da guerra civil, em 1990, a política libanesa é uma tentativa de equilibrar o jogo entre as dezesseis religiões que compõem – e dividem ou unem, conforme a combinação – a população do país. Segundo a Constituição, o presidente deve ser cristão, o primeiro-ministro sunita e o presidente do Parlamento, um xiita.
Na prática, a vitória dos moderados não traz alteração significativa no Parlamento: serão necessárias algumas semanas, no cenário mais otimista, até que se forme uma aliança capaz de governar. O Hezbollah, a principal força política e militar do país, apoiado pela maioria xiita (40% da população) e por uma parcela dissidente de cristãos, deverá manter seu poder de veto sobre as decisões tomadas. Mas sua derrota nas urnas emite sinais que ultrapassam as fronteiras do Líbano. O Hezbollah buscava nas urnas uma legitimidade que ainda não possui: Estados Unidos, Holanda, Canadá, Inglaterra e Israel consideram-no oficialmente um grupo terrorista e não fazem distinção entre sua organização política e sua milícia armada. Em 2006, o Hezbollah sequestrou dois soldados israelenses, o que provocou uma guerra contra o país vizinho que resultou em mais de 1 200 libaneses mortos e 800 000 refugiados. Pelo simples fato de ter sobrevivido aos ataques de Israel, saiu como o vitorioso do conflito.
O Hezbollah é parte da facção extremista que quer pôr fogo no mundo muçulmano, juntamente com o Irã e a Síria, seus principais financiadores, e as milícias armadas do Hamas, na Faixa de Gaza. Já a coalizão 14 de Março se identifica com o grupo dos países moderados da região, favoráveis às negociações de paz com Israel, que inclui Egito, Jordânia e Arábia Saudita. Diante da inegável derrota, o líder do Hezbollah, o xeque Nassan Nasrallah, aceitou o resultado "com espírito esportivo e democrático" – um alívio, dado o histórico de intermináveis disputas armadas que tantas vezes afundaram o Líbano no caos.