O GLOBO - 01/05/11
Começa hoje em Washington um seminário jornalístico patrocinado pela Unesco para comemorar o Dia Mundial da Liberdade de Imprensa. Sob o tema geral "21st Century Media: New Frontiers, New Barriers" ("Meios de comunicação no século 21, novas fronteiras, novas barreiras", em tradução livre), durante três dias jornalistas de todo o mundo dedicados à defesa da livre expressão estarão debatendo no Newseum e no National Press Club a liberdade dos meios de comunicação na era digital.
Essa comemoração do Dia Internacional da Liberdade de Imprensa, a 3 de maio, acontece 20 anos depois da Declaração de Windhoek, onde jornalistas africanos proclamaram que a liberdade de imprensa é essencial para a democracia e o desenvolvimento econômico das nações.
Os debates destacarão as novas plataformas de comunicação que estão transformando a maneira como os cidadãos em todo o mundo recebem e compartilham informações, e também as novas ameaças de censura.
Um público que será alvo especial de debates são os "Digital Natives: The New Media Generation", jovens alfabetizados na era digital que cresceram junto com as novas tecnologias.
Esses jovens constituem a maioria em diversos países, e é preciso saber como eles recebem e compartilham informações na era digital, e como essa nova maneira influenciará no engajamento dessa geração no debate público.
A sessão de abertura constará de uma apresentação do levantamento anual da Freedom House, uma ONG dedicada à defesa das liberdades democráticas, em especial a de informação, sobre a situação da liberdade no mundo, seguida do primeiro debate sobre o estágio atual da liberdade de imprensa no mundo, e de que maneira os meios de comunicação digitais, as redes sociais (como Facebook) e as plataformas móveis (como os Ipads) estão ajudando a expandir o acesso à informação, e quais os bloqueios que estão sofrendo.
O moderador deste painel será o jornalista brasileiro Rosental Calmon Alves, fundador e diretor do Centro Knight para Jornalismo nas Américas.
O jornalista Bob Woodward, editor associado do jornal "Washington Post", famoso pelo caso Watergate, que levou à renúncia do presidente Nixon, vai fazer uma palestra sobre como repórteres e fontes atuam hoje, na era digital, em comparação à época em que sua principal reportagem foi publicada, no início da década de 1970, baseada principalmente em uma fonte anônima que só recentemente foi revelada ao público.
Ainda em plena atividade, Bob Woodward pode ser o exemplo do repórter que liga duas gerações, desde a cobertura do Watergate até a dos recentes movimentos de insurreição nos países árabes, período em que os instrumentos do jornalismo mudaram radicalmente.
A partir da experiência recente, em que documentos secretos são vazados pela internet e as fontes de informação ficam cada vez mais vulneráveis e expostas, alguns pontos fundamentais serão debatidos: o crescente número de plataformas alternativas pode garantir a proteção das fontes?
Jornalistas profissionais e os chamados "jornalistas cidadãos" podem trabalhar em conjunto? A legislação desenhada na era pré-digital está adequada às novas formas de reportagens e à necessidade de transparência?
Outro painel debaterá o papel da mídia tradicional e o da mídia digital na formação do cidadão do século 21, e até que ponto os novos canais de comunicação estão ampliando a liberdade de imprensa.
A censura na era digital será debatida em outro painel, promovido pela agência Associated Press, que reunirá quatro jornalistas de países que enfrentam ameaças à liberdade de imprensa com os governos utilizando-se das novas tecnologias para promover vigilância e ameaças digitais e outras formas de censura.
O painel será conduzido por Kimberly Dozier, um veterano correspondente internacional da AP e especialista em questões de segurança internacional.
Eu serei o mediador de um painel que debaterá o papel da mídia tradicional no novo mundo da informação.
Partindo do pressuposto de que a mídia tradicional, vista como uma plataforma multimídia, continua sendo uma importante distribuidora de notícias e informações, vamos debater como os jornais e as televisões estão integrando as novas tecnologias.
Katharine Zeleski, produtora-executiva para novos produtos digitais do "Washington Post", vai falar sobre a experiência de integração de mídias nos últimos tempos, e se essa operação afetou a qualidade dos serviços.
Mesfin Negash, da Etiópia, hoje trabalhando a partir da Suécia usando a internet e mídias sociais, vai falar de sua experiência de passar de uma publicação impressa para on-line, e como ele interage com etíopes em todo o mundo com sua publicação on-line.
Tatiana Tikhomirova, diretora-executiva de treinamento de mídia na Escola Superior de Jornalismo da Rússia, vai falar sobre como as novas mídias digitais e as novas plataformas de relacionamento social influenciaram o currículo das escolas de jornalismo na Rússia.
É possível ensinar princípios jornalísticos para estudantes que vivem num mundo em que o jornalismo é feito através de blogs? Como ensiná-los a incorporar valores que assegurem jornalismo de qualidade, com responsabilidade na checagem de informações no ambiente de blogs?
Outro debatedor será Larry Kilman, dirigente da Associação Mundial de Jornais e Editores (Wan-Ifra), que falará como os jornais associados estão se adaptando ao surgimento da era digital.
A experiência de editores na América do Norte e partes da Europa Ocidental, que sentem uma erosão na circulação paga dos jornais e a queda da receita publicitária, se repete em outras partes do mundo, ou poderá se repetir à medida em que as tecnologias de comunicação digital forem ganhando espaço?