Foto: Bruno Peixoto
Michel trabalhava em um hotel fazenda como instrutor de pesca. Seguro de si, por vezes ria intimamente dos erros cometidos pelos pescadores iniciantes. Eles pareciam tão tolos. Pescadores de final de semana.
Com certeza, o tipo mais extravagante que ele já conhecera era aquele que estava em sua frente. Parecia um modelo de catálogo de roupas esportivas.
O colete de pescaria era novo. Estava tão duro que parecia engomado. Todo o equipamento de pesca reluzia. Era especialmente novo. O feltro das botas era branco como neve. A vara de pescar nunca tinha sido usada e a carretilha estava montada na posição contrária.
Rico e exigente, pensou o instrutor.
No entanto, quando estendeu a mão recebeu um aperto forte e sincero.
A mulher do principiante tirou uma foto como lembrança e depois os deixou a sós.
O instrutor acertou a posição da carretilha. O aprendiz deu de ombros e riu de si mesmo. A lição de arremesso da linha foi ali mesmo no gramado. Depois foram para o rio.
Quando o principiante apanhou o primeiro peixe, soltou gritos de alegria. Na sequência, a cada peixe que pescava, fazia novos comentários.
Não é lindo? Fantástico? Maravilhoso? Enfim, todos os peixes, não importando o tamanho, eram louvados como pedras preciosas.
Quando, ao final da tarde, a pescaria acabou, ele se voltou sorridente e agradecido para o instrutor e confessou:
Quero lhe dizer uma coisa. Este foi um dos melhores dias da minha vida. Não era para eu estar aqui agora. Estive muito doente e os médicos acreditaram que eu não sobreviveria.
Mas eu acreditei que sobreviveria. Melhorei muito e minha mulher me deu de presente todo este equipamento porque sempre desejei pescar com isca artificial. Esta viagem é uma espécie de comemoração para nossa família.
O instrutor ficou sem fala. Ele pensara tantas coisas a respeito daquele homem, que parecia quase um tolo, a gritar de alegria por cada peixe retirado da água.
E, contudo, ele estava comemorando a vida. A sua saúde. A possibilidade de ficar com os seus, na Terra, por mais um período.
Quando o instrutor o deixou na cabana, onde a esposa e os filhos o esperavam, pôde perceber que a nuvem escura que pairava sobre eles havia passado. Que eles podiam se divertir com algo tão simples como férias em família.
Enquanto retornava para seu próprio lar, o instrutor pensou que, no dia seguinte, partiria ao encontro de um novo pescador.
Mas, com certeza, nunca mais permitiria que roupas engomadas e caras ou uma carretilha ao contrário o levassem a acreditar que o aprendiz não teria alguma coisa para lhe ensinar.
* * *
A vida é uma escola inesgotável. A natureza é mestra. São mestres todos os seres. Alguns nos ensinam a paciência, outros a gratidão.
Alguns são mestres em renúncia e sabem conjugar o verbo ajudar de uma forma muito especial.
Aqueles que são espontâneos, que sabem sorrir com facilidade, que explodem em adjetivos pelo sol que nasce, a chuva que cai, a grama que cresce nos ensinam que o espetáculo da vida é inigualável.
Que ela é feita de pequenas coisas que são extremamente importantes. Basta que saibamos olhar, descobrir, desfrutar.
Redação do Momento Espírita, com base no artigo Um dia de pescaria, de Seleções Reader´s Digest, de agosto de 2000.Em 20.02.2012.
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