Heberth Xavier_247 - Há não mais do que um ano, uma turma de esclarecidos não cansava de bradar que o país seria um fracasso na organização da Copa de 2014. O berro era tão repetitivo e alto que passava até a impressão de que eles torciam, no íntimo, pelo malogro brasileiro. “Eu te disse, eu te disse, eu te disse”, era o que a turma mais desejava -- e deseja --, repetindo o bordão chatíssimo daquela motoquinha do desenho animado.
Eles representavam uma versão moderna e, digamos, um pouco mais sofisticada, do que Nelson Rodrigues chamava de complexo de vira-lata brasileiro, expressão, por sinal, criada pelo dramaturgo graças ao futebol (Nelson se referia ao trauma brasileiro depois da derrota, em pleno Maracanã, para o Uruguai, na final da Copa de 1950). Anos se passaram, Nelson até virou ídolo de vários desses vira-latas, mas eles nunca conseguiram chegar sequer perto da sua influência. Um deles, tentando também virar bordão, trocou as bolas e escreveu um estranho livro chamado… “Contra o Brasil”. Nelson Rodrigues se esbaldaria com tamanho vira-latismo…
Mas não é que os vira-latas têm tudo para fracassar? Nos últimos meses, e sobretudo últimos dias, uma série de boas notícias parecem indicar que o Brasil pode, sim, organizar uma excelente Copa do Mundo. Longe de isso significar, é claro, fechar os olhos para o feudo da CBF, ou a pouca transparência em alguns gastos, ou o uso pequenamente político do evento… Tudo isso é real -- e, sejamos justos, não é novidade em países que organizaram copas ou olimpíadas no mundo moderno --, mas é, também, muito pouco.
No início da semana, a presidente Dilma Rousseff inaugurou o primeiro estádio para a Copa, o Castelão, em Fortaleza, agora apelidado Arena Castelão. Enquanto arriscava, meio bisonhamente, é verdade, dar uns chutinhos na bola no centro do campo, Dilma discursou: “O Brasil conquistou o respeito do mundo porque conquistou o respeito de si próprio”.
Nesta sexta-feira (21/12), foi a vez de a presidente inaugurar o segundo estádio para a Copa, o Mineirão, em Belo Horizonte. Na sua terra natal, ela se soltou e cantou enquanto discursava: “Ôôô, o Mineirão voltou, o Mineirão voltou”.
Apenas um dia antes, o país conheceu as regras de concessão de dois novos aeroportos, o Galeão, no Rio, e Confins, em BH. No total, os dois empreendimentos receberão R$ 11,4 bilhões em investimentos. Com regras mais rígidas, o leilão vai exigir de quem ganhar o direito de administrar cada aeroporto o bom atendimento ao usuário, principalmente nos momentos de alta demanda, como será a Copa.
No mesmo dia, o ministro do Esporte, Aldo Rebelo, garantiu que os seis estádios da Copa das Confederações, em 2012, estarão prontos a tempo. A Copa das Confederações será disputada em Salvador, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Fortaleza e Recife. Para o prato principal -- a Copa’2014 --, além delas, receberão jogos São Paulo, Manaus, Cuiabá, Curitiba, Natal e Porto Alegre.
Sim, é claro que, no discurso oficial, tudo é mais belo. Mas não significa que o contrário é o correto, como parecem supor os vira-latas de plantão. Sim, aos poucos, a Copa no Brasil avança, e contra os últimos fatos não há argumento ou torcida que resistam.