São Paulo – O Instituto Lula e a Fundação Jean Jaurès, ligada ao Partido Socialista francês, lançaram na última quarta-feira (12) uma declaração conjunta em que atacam os pacotes de austeridade adotados pelos países europeus – que, quatro anos depois, ainda não amenizaram os impactos da crise econômica – e propõem a adoção de políticas de crescimento. "Somente assim a globalização poderá garantir o respeito à coesão social e ao meio ambiente", defende o documento. "Hoje a globalização divide ao invés de unir."
Denominada Fundações para o Progresso Social, a iniciativa foi apresentada em Paris durante encontro entre o ex-presidente brasileiro, o chefe de Estado francês, François Hollande, e a presidenta Dilma Rousseff, que está em visita oficial à Europa. Dos três, apenas Lula assina o manifesto. A França foi escolhida para o lançamento da iniciativa durante a Rio+20. Na ocasião, Hollande demonstrou interesse em conhecer melhor as políticas adotadas pelo Brasil para enfrentar a crise, e convidou Lula e Dilma para um encontro na capital francesa.
Em termos gerais, enquanto os países europeus – orientados pelo Fundo Monetário Internacional, Banco Central Europeu e Comissão Europeia, a chamada troika – optaram por reduzir salários, privatizar estatais e demitir funcionários públicos, Brasília preferiu dar combate à recessão apostando nas chamadas medidas anticíclicas e aumentando os investimentos governamentais. Apesar das críticas por "excesso de intervencionismo" na economia e dos baixo crescimento registrado neste ano, as decisões têm contribuído para afastar os efeitos da crise.
De acordo com a assessoria do Instituto Lula, o fórum Fundações para o Progresso Social seria formado por centros de pensamento ligados a partidos de esquerda em todo o mundo. Por enquanto, convites formais foram estendidos à Fundação Perseu Abramo, pertencente ao Partido dos Trabalhadores, e à Friedrich Ebert Stiftung (FES), associada ao Partido Social Democrata alemão. O próximo encontro deve ocorrer no Brasil no final de 2013.
Êxito
Classificada pelo jornalista Luis Nassif como o "anti-consenso de Washington", em contraposição ao encontro que sentou as bases do neoliberalismo, o Fundações para o Progresso Social lembra as articulações propostas pelo Foro de São Paulo. Criado há 22 anos, o grupo foi impulsionado pelo dirigente cubano Fidel Castro para aglutinar partidos e entidades de esquerda na América Latina – e também contou com o protagonismo de Lula. O objetivo, então, era discutir alternativas às políticas econômicas então vigentes na região.
"Somos uma iniciativa exitosa", avalia Valter Pomar, secretário-executivo do Foro de São Paulo, em entrevista à RBA. "Começamos em 1990 com um único partido de governo, hoje estamos presentes em importantes governos da região. Começamos com os Estados Unidos falando de unipolaridade, hoje a hegemonia deles está em declínio. Começamos com o socialismo em crise, hoje é o capitalismo que está em crise. Começamos quando o neoliberalismo se dizia triunfante, hoje estão em decadência."
Pomar afirma que o Foro de São Paulo não está formalmente envolvido no Fundações para o Progresso Social, mas acredita que a iniciativa "representa um reconhecimento – por parte de um setor da esquerda europeia – de que o enfrentamento ao neoliberalismo encontra-se num certo sentido mais avançado na América Latina do que na Europa. Neste sentido,", pondera, "representa uma confirmação de teses que o Foro de São Paulo abraçou desde sua fundação."