Política
Lulismo e ferida aberta:: Fernando de Barros e Silva
FOLHA DE S. PAULO
SÃO PAULO - O cientista político André Singer publicou ontem na Ilustríssima o ensaio "A História e seus Ardis: o lulismo posto à prova em 2010". Como indica o subtítulo, trata-se de uma tentativa de entender a eleição em curso a partir deste fenômeno, o lulismo. O texto funciona como adendo ao artigo que Singer publicou em 2009, na revista do Cebrap, sobre as "Raízes Sociais e Ideológicas do Lulismo".
O cerne da análise (e a sua força) está na identificação do realinhamento sociopolítico que foi gestado no primeiro mandato e veio à luz na campanha da reeleição.
Lula venceu em 2002 na esteira do desgaste do segundo governo FHC, ancorado no apoio de camadas médias historicamente associadas ao PT. Em 2006, quem elegeu Lula foi sobretudo o eleitorado de baixíssima renda, beneficiado por uma política social (Bolsa Família, crédito consignado, salário mínimo etc.) cuja eficácia até então não tinha sido bem dimensionada.
Enquanto a crise do mensalão dava combustível à ojeriza ao PT nas classes médias, o lulismo surgia nos braços do povo, em grande medida descolado do petismo. A ligação com o getulismo é evidente.
Quando, diz Singer, "um governo põe em marcha mecanismos de ascensão social como os que se deram no New Deal, e como estamos assistindo hoje, determina o andamento da política por um longo período". Nessa configuração de forças, a escandalização da campanha funciona como último suspiro de uma oposição que não consegue falar aos mais pobres, mas que encontra acolhida nas camadas intermediárias da sociedade (sobretudo entre os mais conservadores).
O lulismo sairá vitorioso das urnas, mas é uma incógnita saber como se comportará na ausência de seu criador. Ainda mais agora, após as revelações da traficância na Casa Civil envolvendo personagens diretamente ligados à candidata oficial. O caso Erenice abre uma ferida que a provável vitória de Dilma não será suficiente para cicatrizar.
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