Até o próximo debate, e há pelo menos outros quatro ou cinco planejados, muito ainda vai se falar sobre o primeiro embate televisivo da campanha de 2010. Da estréia meio trôpega, mas sem maiores tropeços de Dilma Rousseff, à confirmação do carisma quase zero do candidato José Serra, pouco ou quase nada deverá ficar na memória do eleitor.
Não demora muito, os minutos de fama do ex-democrata cristão, ex-emedebista e ex-petista Plínio Arruda Sampaio, hoje no PSOL, vão virar pó. E ninguém mais dará importância à performance titubeante e pouco convincente de Marina Silva, para quem todas as soluções para o Brasil passam por "estratégias de integração", seja lá o que isso queira dizer. Muito menos terá algum valor a poesia que a verde declamou ao final, algo que dividiu as opiniões entre o sensacional e o patético.
Folclores à parte, o que importa mesmo são os dois principais concorrentes. Nenhum deles foi propriamente brilhante ou desastrosamente mal. Tiveram seus altos e baixos, não frustraram nem agradaram tanto às suas torcidas, embora ambas tenham saído cantando vitória, algo recorrente, sobretudo em disputas acirradas.
Dilma gaguejou, enrolou em frases, deixou várias inconclusas. Pecou nas obviedades, nos chavões, em especial ao falar de educação e saúde. E, embora tenha citado repetidamente o "nosso governo", estranhamente falou pouco, muito pouco, do presidente Lula, sua maior, senão única, credencial para a disputa. Escondeu o seu criador, aquele que lhe fornece luz, ar e fôlego. Até foi alertada, mas já era tarde. Com isso, perdeu. Ou, no mínimo, deixou de ganhar.
Serra, por sua vez, se não negou de todo, como fizera em 2002, demonstrou constrangimento ao ser interrogado sobre o governo de Fernando Henrique Cardoso. Preferiu a frase de efeito – "não olhar para o retrovisor" – à defesa de seu mais fiel correligionário.
É fato que o tucano defendeu a privatização, pelo menos das telecomunicações. E até criou algum mal-estar ao citar o apoio do coordenador da campanha de Dilma e ex-ministro da Fazenda de Lula, Antônio Pallocci, à política econômica de FHC. Mas titubeou ao, de saída, negar o passado, permitindo o melhor momento de sua adversária.
Perdeu a chance de recuperar e reivindicar FHC para si.
E cabe aqui uma curiosidade.
Mesmo sem disputar votos há três eleições, Fernando Henrique Cardoso continua sendo estrela de primeira grandeza em todas elas. É o principal parâmetro do PT e de Lula – por ele derrotado duas vezes consecutivas e, ainda por cima, no primeiro turno. Tudo que o governo Lula faz, mesmo quando marca os seus gols, tem FHC como referência.
De alguma forma, Lula e o PT inventaram o índice FHC de qualidade. Medem tudo por ele.
E o PSDB entra no jogo. Parece não entender que essa é uma métrica que poderia lhe render frutos ao invés de reveses.
Outros debates virão. Possivelmente, mais do mesmo. Pouco atraentes, modorrentos, com a repetição de regras que privilegiam o relógio ao bom embate. Aliás, o calendário prevê uma concentração deles – MTV, Record, SBT, TV Gazeta/Estadão, TV Globo e portal UOL –, com ou sem a participação dos candidatos Dilma e Serra. Mas, certamente, com os astros Lula e FHC.
Mary Zaidan é jornalista. Trabalhou nos jornais O Globo e O Estado de S. Paulo, em Brasília. Foi assessora de imprensa do governador Mario Covas em duas campanhas e ao longo de todo o seu período no Palácio dos Bandeirantes. Há cinco anos coordena o atendimento da área pública da agência 'Lu Fernandes Comunicação e Imprensa