SÃO PAULO - Lula comparou Dilma Rousseff a Nelson Mandela no programa
de TV do PT, anteontem à noite. É um disparate. A comparação entre o
próprio Lula e Jesus Cristo, de que ele tanto gosta, soa menos
extravagante. Ou, para falar em lulês: Dentinho pode fazer um gol
extraordinário, um gol de Pelé. Continuará sendo Dentinho...
Mandela e Dilma participaram nos anos 60 de grupos adeptos da luta
armada em seus respectivos países -num caso contra o governo racista,
no outro contra a ditadura. Ambos foram presos políticos. Fim das
"coincidências". Mandela já era uma liderança contra o apartheid na
África do Sul quando foi detido. Permaneceu quase três décadas na
cadeia e saiu de lá para se consagrar como um dos mitos do século 20.
Ou, como disse Lula na TV: "O tempo passou e o que aconteceu? Mandela
virou um dos maiores símbolos da paz e da união no mundo". E, no caso
de Dilma, o tempo passou e o que aconteceu? Nada. Pelo menos nada que
merecesse registro histórico até que Lula a retirasse do anonimato
para inventá-la como candidata. Tudo isso a partir de 2006, depois que
os nomes até então cotados no PT foram inviabilizados numa nuvem de
escândalos.
Aproximar as biografias de Dilma e Mandela é mais ou menos como
colocar no site oficial da candidata a foto de Norma Bengell durante a
Passeata dos Cem Mil. A imagem induz quem olha a achar que aquela é a
petista, e não a atriz. Inventa-se, assim, uma Dilma fictícia.
Disso Paulo Maluf entende. Sempre que é cobrado sobre Celso Pitta, ele
jura que também se decepcionou muito com o afilhado. Mas faz questão
de repetir o conselho que teria dado quando escolheu um sucessor
negro: "Falei nos olhos do Pitta: se você for um bom prefeito, vai se
eleger governador de São Paulo. Se for governador, vai se tornar o
Nelson Mandela brasileiro".
Lula, é claro, não é Paulo Maluf. E Dilma, é óbvio, é bem diferente de
Celso Pitta. E o leitor já deve estar perguntando o que é que Nelson
Mandela tem a ver com tudo isso.