O carequinha Marcos Valério, do esquema do mensalão,
desfilava impune por aí. Agora entrou em cana por causa
de uma trapaça no Fisco paulista
José Edward
DOIS MOMENTOS À esquerda, com implante, e na CPI que o projetou ao estrelato da maracutaia há três anos |
Finalmente, o lobista Marcos Valério Fernandes de Souza foi preso. Não por ter sido o principal operador do mensalão, o esquema de corrupção que financiava parlamentares do PT e dos partidos aliados do governo em troca de apoio político. Desta vez, Marcos Valério é acusado de chefiar uma quadrilha que tinha como objetivo burlar a Receita do governo de São Paulo. A Polícia Federal diz que o lobista comandava um esquema para livrar a cervejaria Petrópolis, dona da marca Itaipava, de uma multa de 105 milhões de reais. As investigações feitas até agora indicam que Marcos Valério e seu sócio, o advogado Rogério Tolentino, se uniram a policiais federais corruptos. Juntos, eles trabalhavam para desmoralizar os fiscais que haviam aplicado a multa. Pretenderiam, assim, atrapalhar a cobrança do auto de infração do Fisco paulista. De acordo com a Polícia Federal, Valério e Tolentino convenceram dois policiais a instaurar um inquérito fajuto contra esses fiscais. "Valério fazia a ligação entre a empresa, os advogados e os policiais", diz o superintendente da PF em São Paulo, Leandro Coimbra.
O advogado de Marcos Valério, Marcelo Leonardo, reconhece que seu cliente tinha ligações com a cervejaria Petrópolis (o lobista trabalhava como consultor da empresa), mas evita comentar a detenção sem antes fazer uma análise completa do inquérito, que tem dezenove volumes. A prisão de Marcos Valério foi incluída em uma operação da PF chamada Avalanche, para desbaratar um esquema maior de corrupção e extorsão dentro do Fisco paulista. Além do lobista, foram presas outras dezesseis pessoas.
Réu no processo do mensalão, nos quais responde por cinco crimes (corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e evasão de divisas), Marcos Valério vinha desfilando livre, leve e solto pelo país. Ele vive nababescamente em sua casa na região da Pampulha, em Belo Horizonte, e mantém um escritório em outro bairro nobre da capital mineira. No ano passado, desembolsou 6 milhões de reais para comprar uma fazenda perto da cidade. Prenderam um escárnio ambulante. Espera-se que continue preso.