O Estado de S. Paulo - 06/07/2011 |
Aventaram-se algumas hipóteses, mas nenhuma delas dá como certa a permanência do ministro. No gabinete do vice Michel Temer houve uma reunião ontem, cuja conclusão foi a seguinte: se a imprensa reservar a Nascimento 10% do tratamento conferido a Antonio Palocci na crise, o ministro não dura até sexta-feira no posto. Depois de ter deixado Temer sem informação até meia hora antes da demissão de Palocci e ter tentando se redimir ao consultá-lo sobre a nomeação de Ideli Salvatti, Dilma de novo deixou seu vice no ar. Ele não sabia dizer o que acontecera aos correligionários que correram a ele atrás de explicações não só sobre a permanência, mas principalmente para a nota expressando confiança no ministro que desde o governo Lula comanda a pasta onde o superfaturamento de obras, para dizer o mínimo, corre solto. Esquisito mesmo, já que a demissão da cúpula do ministério foi tomada por Dilma sem a anuência de Alfredo Nascimento, deixando evidente que o ministro já não gozava da confiança dela. Qual a razão para o que transpareceu como mais um recuo de Dilma, que tem se notabilizado por falar forte num primeiro momento para, em seguida, ceder às circunstâncias? Se a presidente lhe desse a chance de uma conversa franca, coisa que não faz, Temer a aconselharia a agir primeiro e falar depois. Partindo do princípio de que a presidente costuma fazer o oposto, o comando do PMDB levanta a hipótese de Dilma ter hesitado na última hora, na conversa com o ministro depois de publicada a reportagem da revista Veja relatando as ilegalidades e de tomada a decisão de afastar os auxiliares de Nascimento. Seja como for, ele terá de administrar sua sobrevida praticamente sozinho. O Planalto não vai ajudar e tampouco poderá contar com auxílio do PT e do PMDB, entre outros motivos porque acham que ele está na corda bamba, condenado. Mas há um complicador. Muito provavelmente Dilma não demitiu o ministro para amenizar o confronto com o PR, Valdemar da Costa Neto e a expertise desse pessoal no trato privado da coisa pública. O partido, ao menos por enquanto, tem a vaga preservada. Quanto a outros poderes de fogo convém não esquecer de que o último que se sentiu alvo dentro do governo era de partido aliado (PTB) e deflagrou o escândalo do mensalão. Pode ser que sim, pode ser que não. Mas gatos escaldados, sabemos bem o temor que têm até da água fria. Sinalizador. Fato é que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, não desmentiu a interpretação de que fazia uma comparação com Dilma quando elogiou Fernando Henrique por nunca ter levantado "a voz para ninguém". A assessoria do Palácio do Planalto divulgou que o ministro "iria" à presidente "explicar o mal-entendido". Não se sabe se foi ou se não foi, se explicou ou não se explicou. Fato é que Jobim está profundamente contrariado com o esvaziamento da pasta e com o tratamento que recebe da presidente. Não só ele, mas um grupo expressivo do PMDB que, não demora, incorre em arroubo semelhante. Espuma. O governador Sérgio Cabral Filho poderia seguir a Constituição, o Código Penal e o estatuto do servidor público, mas preferiu adotar como regra para sua administração o Código de Ética da Presidência da República. Um conjunto de normas indicativas coordenadas por uma comissão de alcance meramente consultivo, o código não "pegou" como, de resto, demonstra a rotina de malfeitorias impunes. Sem poder punitivo de fato, desde sua criação o código não serviu para coisa alguma a não ser para advertências inócuas e, em alguns casos, para produzir atestados de inocência, como no recente episódio envolvendo Antonio Palocci. |