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Afinal, Quem Inventou o Google?

O Google, admitamos, é infernal. Você procura e está lá. Você procura, seja o que for, e está lá. Eu, pra dar exemplo, queria saber um verso de Bocage. José Maria? Eu não estava certo se era José Maria. Bocage foi um poeta português, satírico, não raro pornográfico, sobretudo pra época em que viveu.

No Brasil Zé Maria veio bater, não como satírico ou pornográfico, mas escatológico.

Escatológico, esclareço aos mais esclarecidos, é uma palavra contrônima, pois tem dois significados totalmente opostos. Num se refere a coisas nobres, imponentes, metafísicas – ressurreição, fim do mundo, volta do Cristo, terceiro mandato do Lula. Noutro se refere a fezes, podridões físicas e morais. Resumindo, escatológico é uma palavra esquizofrênica.

No Brasil Bocage ficou conhecido por esse significado. Um garoto dizia pro outro: "Você já ouviu a última do Bocage?", "Conhece a última do Bocage?", e lá vinha uma historinha escrota. Quanto mais, mais Bocage era.

No Google eu procurava um verso do poeta: "Não lamentes, ó Nise, a tua sorte". Taquei isso no Google. Enter!, o Google comandou. Enterei. Em 2 segundos veio o verso, o nome inteiro do poeta, José Manuel Maria Barbosa du Bocage, e o desgranido do Google ainda me corrigiu a frase. Em vez de tua sorte era teu estado. E logo o belo soneto fescenino:

"Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado".

Mas isso tudo acima é só um introito. O que pretendo saber é simples. Quem foi que inventou o Google?

Eu acho que foi o Borges. O brilhante Borges, falso cego e tarado por bibliotecas. Tanto que idealizou, sonhou com, uma Biblioteca Universal.

"O paraíso pra mim é uma espécie de biblioteca."
A Biblioteca de Babel. La biblioteca total. Onde caberiam todos os livros.

Mas alguns dizem que a primeira ideia vem de Lasswitz – Die Universalbibliothek, de 1901. (Reparem. Ao contrário do brasileiro, alemão não acredita em hífen. Junta tudo, e pronto.)

Continuando: Ramon Llull projetou uma máquina de pensar com símbolos ortográficos universais. Cujas combinações, recombinações e repetições possibilitariam tudo que já foi expresso em linguagem. Biblioteca Total, tamanho astronômico. Lasswitz diz que seria um paradoxo – a humanidade construiria uma máquina super-humana, desumana. Eliminaria a inteligência. Deixa pra lá.

Tem pesquisa pra tudo – falam em Aristóteles, Demócrito, mais recentemente Hechner, Wolff, e por aí vai. Mas, do que sei, quem avançou no "projeto" foi mesmo Borges. Envolveu nele a realidade, a cabalística, a história, e os labirintos pelos quais era tarado. Simplificando, eis o projeto básico:

Todas as salas seriam em forma de hexágono. Cada sala teria 3 portas. Haveria 10 estantes em cada parede. Os símbolos ortográficos seriam 25. Cada linha teria 80 letras. Cada página teria 40 linhas. Cada livro teria 410 páginas. Cada estante teria 39 livros.

Isso tudo resultaria em 1.380 caracteres. Parece pouco? Diziam que a Biblioteca de Babel seria effroyable – assustadora. Como conteria todos os livros, conteria também livros iguais com erros de impressão. Livros com 24 erros chegariam a 40.960.672.578.684.980.713.193.472.000. Se apenas alguns livros tivessem 10 erros, a quantidade de livros ultrapassaria o Googolplex. Acho que o Google veio mesmo daí. Confiram o Googolplex:

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